A construção de representações sobre corpo na sociedade e o papel da escola na desconstrução dos padrões impostos
Abstract
Ao longo da história da Ciência, o conhecimento do corpo humano está relacionado com a separação e análise de partes anatômicas e sistemas fisiológicos, implicando na forte tradição curricular hoje existente de fragmentação para seu estudo e no seu tratamento como puramente biológico. Nas
escolas, geralmente as aulas são ministradas a partir do livro didático que traz um corpo retirado de seu contexto social, não se discutindo as relações de poder a que está submetido. Pensando nisso, com o objetivo de criar estratégias para investigar e problematizar as representações sobre corpo
produzidas por diferentes práticas sociais, tendo como base principalmente as contribuições dos Estudos Culturais (particularmente as produções vinculadas à perspectiva pós-estruturalista), elaboramos oficinas pedagógicas para mapear representações de alunos relativas ao tema e ao mesmo tempo possibilitar momentos de diálogo sobre os preconceitos e discursos dos quais o corpo é alvo. As oficinas são descritas a seguir: 1. Corpo para vender produtos e produtos para vender um corpo: discussão sobre a mídia enquanto pedagogia cultural implicada na promoção de determinados comportamentos, consumos e valores; 2. O corpo como tela...voltando às origens ou construindo novos corpos: discussão sobre a construção de corpos alternativos (com
tatuagens, piercings,etc.) e suas aceitações em diferentes culturas e tempos históricos; 3. A ditadura do corpo perfeito: discussão sobre o papel da cultura e da linguagem na constituição do ideal de corpo perfeito em voga na sociedade. A idéia dessas oficinas surgiu através de experiências em sala
de aula e da crença no trabalho dialógico já desenvolvido pelo grupo de pesquisa INTERNEXUS. Elas foram implementadas primeiramente numa turma de acadêmicos estagiários do curso de Ciências Biológicas (para serem ajustadas) e posteriormente nas escolas (quatro implementações em
Santa Maria-RS e doze implementações em Nova Palma- RS, de 5ª a 8ª série). Como dificuldades encontradas citamos: a estrutura escolar (o espaço limitando os sons das discussões, o tempo reduzido para as atividades), a lógica do certo e do errado por parte dos alunos, o descaso de alguns professores com conteúdos que não constam no currículo. Através das falas dos alunos evidenciamos representações sociais ligadas ao discurso familiar, religioso, escolar ou da mídia em relação a um corpo padrão disciplinado e civilizado, a um corpo universal nos moldes europeus, a um corpo belo ideal e ainda representações de aula e do espaço escolar. Também, a partir das suas avaliações pudemos constatar que o trabalho foi válido por permitir que expressassem suas opiniões na discussão de assuntos que faziam parte de suas vidas e no sentido de que as próprias oficinas também possam ter servido para a construção de outras representações sobre corpo. Esse estudo está inserido na Linha de Pesquisa: Currículo, Ensino e Práticas Escolares do Programa de Pós-
Graduação em Educação da UFSM.