As relações com o saber/aprender dos jovens do ensino médio em situação de abandono escolar
Fecha
2015-08-28Metadatos
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Buscar compreender o jovem em situação de abandono, dando voz a ele, significa levar em consideração um sujeito que se relaciona com o mundo, que possui uma história que é, ao mesmo tempo, singular e coletiva; um sujeito que não apenas incorpora aspectos da sociedade, mas que constrói e reconstrói a história e sua história, dando sentido para suas ações. Assim, considerando que o saber apenas tem sentido quando se relaciona com o que vivemos, com as pessoas com as quais nos relacionamos, com as dúvidas que mantemos e também com aquilo que nos interessa (CHARLOT, 2000), este trabalho propôs como objetivo compreender as relações dos jovens com o saber/aprender e o vínculo que essas relações mantêm com a situação de abandono escolar. Para tanto, investigou-se aspectos relativos à trajetória escolar dos sujeitos, com foco em suas experiências de aprender; buscou-se entender suas concepções sobre a escola de Ensino Médio; e identificar os contornos culturais, sociais e institucionais dos jovens pesquisados e suas relações com professores, colegas e funcionários. O referencial teórico baseou-se em estudos sobre o ensino médio brasileiro (MOEHLECKE, 2012; PATTO, 1988), sobre a juventude (CRIADO, 1998; ABRAMO, 1997; SPÓSITO, 1999; DAYRELL, 2005; TOMAZETTI et al 2012) e sobre a relação com o saber (CHARLOT, 2000; FREIRE, 1996). A metodologia que norteou o trabalho foi a abordagem qualitativa (MELUCCI, 2005), utilizando-se a entrevista semiestruturada como ferramenta de produção dos dados (LÜDKE e ANDRÉ, 1986; ANGROSINO, 2009). Para a análise dos dados, utilizou-se a análise textual discursiva (MORAES, 2003). Os sujeitos da pesquisa foram três jovens estudantes do Ensino Médio, em situação de abandono escolar, de uma escola pública de Santa Maria-RS. Os resultados apontaram que os jovens, apesar de manterem um vínculo frágil, conferem sentido à escola. No entanto, os saberes escolares específicos, principalmente aqueles considerados como conteúdos intelectuais, parecem não fazer tanto sentido para eles. Identificou-se também uma postura de autorresponsabilização pelo afastamento da escola, que parece representar uma cultura juvenil que não expressa crítica, nem a sua metodologia, nem a sua estrutura propedêutica. Também ficou em destaque a influência do ideal consumista a moldar a relação dos jovens com o saber, pois este ideal parece estar vinculado a uma desvalorização cada vez maior do saber escolar que se organiza fora da lógica utilitarista e imediatista. Por fim, foi possível perceber que a situação de abandono deve sempre ser vista como um fenômeno complexo, pois não envolve somente o sujeito afastado, mas a sociedade como um todo, incluindo o estado e as políticas públicas.