Estar na condição de familiar acompanhante: vivências de enfermeiros
Resumo
O hospital constitui-se em um espaço desconhecido para o paciente, o qual proporciona
ambivalência de sentimentos. Ao necessitar de internação hospitalar, o indivíduo doente busca
amparo, segurança e resolução para sua situação de saúde. Contudo, ao mesmo tempo, a
hospitalização pode desencadear medo, insegurança, sofrimento e sensação de abandono.
Essas condições, em qualquer indivíduo, parecem repercutir no seu estado emocional, já que o
afastamento de seu meio, do cotidiano, do trabalho e de sua família produz, por si só,
consequências importantes, como a perda, parcial ou total, da autonomia e da independência.
Uma condição que pode minimizar essa situação é a presença de familiares acompanhantes no
ambiente hospitalar. No entanto, o doente adulto não tem respaldo legal que lhe permita a
presença de um cuidador durante a sua internação. Desse modo, ele fica refém das normas e
rotinas das instituições que, de acordo com o profissional responsável, poderá ou não usufruir
da presença de um familiar acompanhante. O enfermeiro é o profissional que pode promover
a presença e a participação do familiar no cuidado ao paciente, pois, comumente, cabe a ele
decidir qual paciente poderá ter um acompanhante, quando não há respaldo legal que garanta
a sua permanência. O enfermeiro assume, frequentemente, o papel de mediador na relação
entre equipe, paciente e familiar. Frente a esse contexto, constitui-se como objeto do estudo a
vivência de enfermeiros na condição de familiar acompanhante no ambiente hospitalar. Os
objetivos da pesquisa são descrever a vivência de enfermeiros na condição de familiar
acompanhante de paciente hospitalizado e analisar essa e suas possíveis repercussões na sua
atuação profissional. Trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo descritivo e exploratório.
Os sujeitos da pesquisa foram nove enfermeiros que trabalham no Hospital Universitário de
Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Brasil. Para a coleta e produção dos dados utilizou-se o
Método Criativo e Sensível, teorizado por Cabral, por meio da realização de dois encontros
com Dinâmicas de Criatividade e Sensibilidade do tipo Costurando Estórias . Para a
interpretação dos dados foi utilizada a análise de discurso em sua corrente francesa. A partir
da análise dos dados emergiu duas categorias desdobradas em temas e subtemas. Os
resultados demonstraram que o conhecimento profissional das enfermeiras no momento de
acompanhar um familiar internado provoca uma ambiguidade de sentimentos. Assim como
manifestam sentimentos negativos em relação a ter conhecimento e saber das possíveis
evoluções da condição de saúde do paciente, também sentem alívio em saber o que os
familiares necessitam para, diante de tal situação, providenciar ajuda. Nesse sentido, o
conhecimento profissional também ajuda na tomada de decisões e na reivindicação por
assistência. O fato de a enfermeira estar trabalhando na mesma instituição em que o familiar
estava internado possibilita diversas facilidades como, conciliar a atividade profissional com o
cuidado prestado ao seu familiar; agilidade no processo da internação e um cuidadodiferenciado aos seus familiares. A vivência como familiar acompanhante repercutiu tanto na
vida profissional quanto na vida pessoal das enfermeiras. Algumas circunstâncias vivenciadas
levaram-nas a reavaliarem suas condutas profissionais.