O olhar feminino sobre o cuidado à saúde da mulher quilombola
Abstract
Estudo de campo, descritivo, com abordagem qualitativa e vertente antropológica, desenvolvido em fevereiro de 2014, com 13 mulheres de uma comunidade quilombola. O estudo teve como questão de pesquisa: quais os significados, sentimentos e práticas de cuidado vivenciadas por mulheres quilombolas de um município do interior do Rio Grande do Sul/Brasil? , e como objetivo conhecer os significados, sentimentos e práticas de cuidado vivenciadas por mulheres de uma comunidade quilombola. Utilizou-se o grupo focal como técnica principal para produção dos dados. Complementarmente, foi realizada uma entrevista semiestruturada. Para registro dos dados, utilizou-se o diário de campo. Optou-se pela técnica de análise de conteúdo temática da proposta operativa, sob a orientação da antropologia interpretativa. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número do processo 25345113.7.0000.5346. A dissertação contempla quatro artigos. O primeiro constitui-se no perfil do grupo de mulheres participantes do estudo e os três últimos, as três categorias que emergiram dos resultados. No segundo artigo, objetivou-se conhecer o significado de cuidado à saúde entre as mulheres da comunidade quilombola; verificou-se que os significados atribuídos ao cuidado à saúde estão condicionados ao trabalho, alimentação, higiene, atividade física e ações de prevenção de agravos à saúde, a partir da realização de exames preventivos e da prática de sexo seguro. Contudo, elas enfrentam inúmeras dificuldades para garantir esses cuidados, as quais envolvem a falta de transporte, condições financeiras precárias e dificuldade de acesso aos serviços de saúde; mas vislumbram estratégias em curto e longo prazo para garantir que o cuidado à saúde seja mantido. No terceiro artigo, visou-se desvelar os sentimentos que emergem neste grupo de mulheres em relação a sua identidade quilombola; identificou-se os sentimentos de felicidade e orgulho, além da sensação de liberdade devido à vida na comunidade. Entretanto, estes sentimentos também mesclam-se às sensações de impotência, angústia, frustração e insegurança, devido às condições adversas vivenciadas pelas mulheres. Todos os sentimentos e sensações manifestadas são influenciados pelo contexto cultural e são capazes de influenciar tanto nos significados atribuídos ao cuidado à saúde quanto nas práticas de cuidado desenvolvidas na comunidade. Finalmente, no quarto artigo, teve-se o intuito de investigar como foram construídas socioculturalmente as práticas de cuidado entre as mulheres do quilombo e foram desveladas as práticas de cuidado desenvolvidas e compartilhadas entre as mulheres quilombolas nos diferentes períodos que abrangem o seu ciclo vital. Além disso, eventos femininos, como a menarca, a gravidez, o parto, o puerpério e a menopausa foram evidenciados como processos que demandam práticas específicas de cuidado. As práticas são realizadas a partir dos recursos existentes no contexto familiar e comunitário, e encontram-se balizadas no conhecimento prévio e nas vivências das mulheres do quilombo. Considera-se que este estudo permitiu identificar algumas limitações e avanços na área da saúde da mulher. Espera-se estimular reflexões e discussões dentro dos espaços acadêmicos-profissionais, e
incentivar novas pesquisas sobre a saúde da mulher quilombola, possibilitando, assim, novos olhares sobre estas mulheres e suas vivências.