Multifuncionalidade do rural o uso de atividades agropecuárias e de espaços rurais para práticas terapêuticas
Resumo
A presente pesquisa aborda a perspectiva das múltiplas funções do espaço rural e da agricultura, investigando a amplitude da noção de multifuncionalidade com foco empírico no estudo das práticas terapêuticas que se utilizam dos espaços rurais e de atividades agropecuárias na região central do Rio Grande do Sul Brasil. Os objetivos da pesquisa foram identificar, descrever, classificar e caracterizar estas diferentes modalidades de terapias, buscando identificar os sentidos que os profissionais e público envolvidos atribuem às suas práticas terapêuticas baseadas em atividades agropecuárias e/ou junto aos espaços rurais. Os principais métodos e técnicas de investigação utilizados foram o questionário, a observação participante, as entrevistas semi-estruturadas e a análise de discurso. No conjunto dos 35 municípios da região central do Rio Grande do Sul investigados foram identificados nove estabelecimentos, localizados em sete municípios diferentes, que desenvolviam algum tipo de terapia com base em atividades agropecuárias e atributos dos espaços rurais. Os nove estabelecimentos foram classificados em três modalidades diferentes de práticas terapêuticas, sendo elas: (1)Comunidades Terapêuticas para a reabilitação e reinserção social de pessoas dependentes de substâncias psicoativas; (2)Centros de Equoterapia, voltados ao atendimento de pessoas com necessidades especiais e/ou problemas físicos e motores, com o propósito de educação, reabilitação e melhora na qualidade de vida dos praticantes; e (3)Terapia de Energização, voltada a um público amplo, com a intenção de proporcionar o descanso físico e mental dos visitantes através de práticas esotéricas e contato direto com a natureza. Os sentidos para o uso de atividades agropecuárias e do espaço rural para práticas terapêuticas vinculam-se a elementos ligados à internalização da disciplina por meio do trabalho manual, localização distante das tentações do vício, à religião e o seu sistema de crenças e aos atributos positivos e idealizados da natureza, como os espaços abertos e verdes, os animais, a paisagem e o ciclo de vida das plantas, que constituem um imaginário de tranqüilidade, saúde e bem-estar.