Extensão rural pública: métodos, possibilidades e limites para a transição agroecológica no oeste catarinense
Abstract
O presente trabalho tem o objetivo de compreender e analisar as estratégias utilizadas pela Extensão Rural Pública na Região Oeste Catarinense, na perspectiva da transição agroecológica. Foram caracterizados seis agroecossistemas, ou unidades de produção familiar, considerando os atributos da sustentabilidade, na sua concepção dinâmica e multidimensional. Utilizou-se, como estratégia metodológica, o marco de avaliação de sistemas de manejo de recursos naturais incorporando indicadores de sustentabilidade (MESMIS), além de entrevistas semiestruturadas e questionários aplicados a extensionistas da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e análise de documentos. Considerou-se agroecologia o campo de conhecimento interdisciplinar, holístico e que busca a hibridação de saberes para a construção de sistemas agrícolas e desenvolvimento rural sustentáveis. Os agroecossistemas estudados apresentam estratégias diversificadas de resistência para a sua reprodução social. No tocante às relações socioeconômicas, é muito forte a organização em redes de cooperação, grupos de produção, grupos de comercialização e representações de classe, além da interação com organizações de apoio, seja no campo da agricultura familiar, como também do mercado globalizante. Foram identificadas também algumas temáticas significativas em comum nos agroecossistemas: a comercialização em ciclo curto é uma estratégia alternativa à integração ao mercado dos impérios alimentares; a água e o solo são recursos naturais que apresentam problemas relacionados ao manejo inadequado; a atividade produtiva âncora tem sido a produção leiteira, mas a sustentabilidade depende da diversificação; a tradição no processamento de produtos coloniais é uma base importante para a formalização de agroindústrias rurais da agricultura familiar; a valorização cultural, lazer no espaço rural, relações familiares e penosidade do trabalho são temas relacionados ao êxodo rural juvenil e à sucessão nas unidades de produção e; a produção para o autoconsumo é um ponto forte dos agroecossistemas, que garante boa qualidade da alimentação, fortalece os laços comunitários, produz saber local e representa uma base importante para a conversão para sistemas sustentáveis de produção. A extensão rural pública na região, grosso modo, não contempla as temáticas significativas acima e persiste em estratégias difusionistas, associadas ao modelo da chamada modernização conservadora da agricultura. As demandas de trabalho da extensão rural são diversificadas, cabendo pouca margem de interferência dos agricultores na elaboração dos planos de trabalho. A atuação da extensão rural pública na região estudada, na perspectiva da transição agroecológica, depende da aproximação com as demais organizações do campo da agricultura familiar que atuam no meio rural para a formação de um sistema de informação e conhecimento com a efetiva participação dos agricultores, que atenda às reais necessidades dos agroecossistemas. Também é importante redefinir o papel da extensão rural contemporânea, para a solução do problema da sobrecarga de trabalho, tornando-a ágil, presente e efetiva. Do ponto de vista metodológico, aponta-se para a utilização de enfoques sistêmicos e participativos, baseados nos princípios da dialogicidade, curiosidade epistemológica, temáticas significativas, problematização e leitura do mundo.