Discursos e representações sobre a natureza: o novo Código Florestal Brasileiro
Resumo
Este estudo busca analisar os discursos relacionados à alteração do Código Florestal Brasileiro e as representações que a Natureza ganha nesse debate, utilizando, para tanto, as noções da Teoria da Análise do Discurso. A análise recai sobre a disputa entre visões opostas estabelecidas em torno da aprovação da Lei: ambientalistas e ruralistas. Nesse momento, os agentes utilizaram de muitos meios para angariar adeptos à sua visão e influenciar a votação, sendo as cartilhas um desses meios. O corpus de análise constitui-se, então, de duas cartilhas confeccionadas por esses dois grupos: a primeira pertence a um conjunto de Organizações Não Governamentais (ONGs) denominada SOS Florestas e a segunda à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA Brasil). Como objetivo geral dessa dissertação, procura-se analisar os discursos utilizados nos dois textos. Como objetivos específicos busca-se definir qual a ideia de Natureza existente atrás de cada discurso, além de evidenciar que posições-sujeito se estabelecem na discussão e como a relação homem/Natureza significa nos/para os sujeitos. Primeiramente, faz-se um resgate histórico da ideia de Natureza pela cultura ocidental desde a Natureza mágica, passando pela Grécia, Idade Média, Iluminismo e chegando aos dias atuais e disserta-se sinteticamente sobre os Códigos Florestais que existiram no País. Após a definição de alguns conceitos importantes na Análise do Discurso, passa-se à leitura do material. Cada cartilha apresentou sua posição em relação ao projeto de Lei que deu origem ao mais novo Código Florestal Brasileiro expondo, para isso, seus argumentos. Observa-se um jogo de intenções nas cartilhas analisadas, ambas utilizam os argumentos em que acreditam para convencer o leitor dos documentos do ponto de vista defendido, mas essa posição é anterior a qualquer intenção. Ela fala antes, determinada pela vivência, pela exterioridade, derivada de um trabalho simbólico. Os documentos consideram apenas a posição-sujeito agricultor e a posição-sujeito ambientalista, desconsiderando que essas categorias incluem uma diversidade de práticas que significam de formas diferentes e remetem a relações com a Natureza diversas. As posições-sujeito remetem ao sentido de Natureza: para a cartilha da CNA ela não é intocada nem intocável, ao contrário, a natureza concebida aqui é aquela em relação ao homem, o meio existe e é considerado enquanto em contato e manipulado pelo homem. Já na cartilha da SOS Florestas, a interface com o homem é sempre de destruição, o meio ambiente é algo externo à humanidade e carece de proteção, pois a intervenção das pessoas causam danos. Conclui-se que, mesmo pertencendo a formações discursivas diferentes, ambas alinham-se a uma visão antropocêntrica da Natureza, pois nenhuma rompe com a noção de que as coisas são feitas para o homem. A ideia de Natureza é diferente em cada uma, mas em uma análise mais profunda, ambas provêm de um lugar da memória próximo.