Efeitos da suplementação com ácidos graxos omega 3 nos distúrbios motores e disfunção cognitiva de pacientes tratados com antipsicóticos típicos
Resumo
Cerca de 20 a 25 % dos pacientes psiquiátricos tratados com antipsicóticos típicos podem desenvolver uma importante síndrome motora denominada discinesia tardia (DT), de etiologia complexa e ainda sem tratamento efetivo. Perdas cognitivas também estão associadas ao uso desses medicamentos, sendo muitas vezes de difícil identificação e igualmente prejudiciais. Alguns estudos têm demonstrado efeitos benéficos dos ácidos graxos poliinsaturados Omega 3 (AGPI n-3) sobre a DT e sobre a cognição. Considerando as evidências disponíveis, realizamos este trabalho que consistiu de um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo. Avaliamos os efeitos da suplementação com de óleo de peixe rico em AGPI n-3 (3 g/dia) ou placebo (3 cápsulas/dia) sobre distúrbios motores e cognitivos de pacientes sob uso de neurolépticos, por um período de 12 semanas. Foram efetuadas duas avaliações, uma antes da suplementação (basal) e outra ao final da mesma. Para isso utilizamos as seguintes ferramentas de avaliação: Escala de Movimentos Involuntários Anormais (EMIA), para a DT e Mini-Exame do Estado Mental (MEEM), para a cognição. Amostras de sangue periférico foram colhidas antes da suplementação (basal) e 4, 8 e 12 semanas após, com o propósito de acompanhar seus os efeitos sobre parâmetros bioquímicos- triglicerídeos (TG), glicemia de jejum, colesterol total, colesterol ligado à lipoproteína de alta densidade (HDL-C) e colesterol ligado à lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), bem como sobre parâmetros de coagulação sanguínea- tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial (TTP). Com o material biológico colhido, também executamos o Ensaio Cometa em leucócitos, para investigar a influência do tratamento sobre o índice de dano no DNA. Após 3 meses de suplementação, observamos que o óleo de peixe produziu uma melhora de 18,5 % na DT, enquanto o desempenho cognitivo não sofreu alteração em relação à avaliação basal. Por sua vez, o perfil lipídico dos pacientes não foi modificado, a glicemia de jejum foi reduzida em todas as avaliações e o TP aumentou na última avaliação. Ainda, o índice de dano no DNA não foi alterado, mostrando que o óleo de peixe não apresentou efeito genotóxico. Com isso, demonstramos o potencial terapêutico do óleo de peixe rico em Omega 3 sobre a DT de pacientes tratados com neurolépticos e seu baixo risco de efeitos colaterais. O aumento do TP sugere um possível efeito anticoagulante, necessitando de acompanhamento durante tratamentos crônicos.