A relação ontológica entre vida e existência na abordagem hermenêutico-fenomenológica de Martin Heidegger
Date
2013-03-22Metadata
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A presente dissertação tem como objetivo geral reconstruir a relação entre os sentidos de ser da vida e da existência na ontologia de Martin Heidegger. Após a reconstrução e a comparação entre as duas noções, será possível ver o que Heidegger chamou de abismo ontológico entre a vida e a existência. A noção de existência será reconstruída a partir da ontologia fundamental e da analítica existencial desenvolvida por Heidegger em Ser e Tempo. Com a noção de existência, Heidegger pensa o ser humano em sua relação incontornável com o ser. Neste sentido, o ente humano, concebido como ser-aí, é essencialmente determinado pela compreensão de ser. Contudo, Heidegger mostra que a existência humana é determinada essencialmente pela temporalidade. Dessa forma, a temporalidade é apresentada por Heidegger como o sentido de ser do ser-aí. Além disso, o ser-aí possui como constituição fundamental o ser-no-mundo, de modo que não é possível pensar esse ente sem essa relação com o mundo. A partir da reconstrução da analítica existencial, é possível mostrar o que Heidegger concebe como hermenêutica da natureza. É no interior da hermenêutica que surge o problema da vida. A vida é entendida como o sentido de ser dos organismos vivos, mas esse tema não é elaborado em Ser e Tempo. A vida é caracterizada por um retraimento na abertura de mundo do ser-aí. Dessa forma, Heidegger elabora as condições hermenêuticas para que se possa apreender adequadamente através do que ele chama de interpretação privativa da vida. O desenvolvimento sistemático do sentido de ser da vida é apresentado por Heidegger na preleção de 1929/30, intitulada Os Conceitos Fundamentais da Metafísica: Mundo, Finitude, Solidão. Nessa preleção, Heidegger tematiza o fenômeno da vida a partir da tese diretriz o animal é pobre de mundo . Além disso, Heidegger diz que todo vivente é organismo. Neste sentido, para apresentar o fenômeno da vida, Heidegger investiga a noção de organismo em conjunção com pesquisas biológicas e zoológicas. Essas investigações mostram o organismo como uma estrutura pulsional dotada de aptidões e criadora de órgãos. Além disso, ao tomar como exemplo a animalidade, Heidegger apresenta a essência do animal como perturbação, de modo que o comportamento do animal é sempre perturbado e absorvido em um círculo de desinibição. Assim sendo, o animal, em comparação com o homem, é visto como privado de mundo. Nessa mesma preleção, Heidegger apresenta a existência humana não mais como ser-no-mundo, mas sim nos termos de formação de mundo. Nesse sentido, será visto como ocorre essa mudança em relação à Ser e Tempo e como a existência é separada da vida por um abismo intransponível, de modo que apenas marco divisor entre esses dois sentidos de ser somente é possível em termos comparativos.