O progresso da ciência: uma análise comparativa entre Karl R. Popper e Thomas S. Kuhn
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar o problema do progresso científico em Karl R Popper e Thomas S Kuhn. O progresso cientifico, antes desses dois autores, era tido como cumulativo, ou seja, a ciência cresceria na medida em que incorporasse novas verdades ao corpo de verdades que já lhe era familiar. No entanto, foi a partir de David Hume que essa forma de progresso foi posta em causa, pois ele observou que a ciência repousava em inferências indutivas inválidas, e aquilo que se arrogava verdade em ciência era, na verdade, inválido, pois as premissas de um argumento indutivo, embora verdadeiras, não asseguravam a verdade transmitida para a conclusão, uma vez que esta última dizia muito mais do que o que era dito nas premissas. Esse problema levantado por David Hume, além de ter afetado o método científico, também implicava na irracionalidade da ciência. Foi com o intuito de resolver esse problema que o Círculo de Viena propôs a probabilidade como uma maneira de evitar tanto os problemas oriundos da indução, como garantir o caráter racional da ciência, embora ainda mantivesse o progresso como cumulativo. Karl R Popper foi um dos primeiros a propor uma forma de progresso que não fosse positivo e cumulativo, isto é, o objetivo da ciência não mais era a verificação, e tampouco a alta probabilidade, senão o falseamento das teorias. A ciência, para Popper, tem sede de progresso e este fator é uma parte essencial que lhe garante o caráter racional e empírico das teorias científicas. Conquanto ocorresse constante falseamento e a repetida derrubada de teorias estaríamos progredindo, ainda que de maneira negativa. Com vistas a solucionar os problemas anteriores, Popper rejeitou a indução e propôs o método hipotético-dedutivo de prova em seu lugar. Por outro lado, Thomas Kuhn também pretendeu explicar o progresso como não cumulativo e racional, pois para este filósofo a ciência progride através de revoluções científicas e pela sucessiva troca de paradigmas. Estas revoluções, por sua vez, não ocorrem por meios que a lógica tradicional possa capturar. Em vista disso, esse trabalho pretende argumentar em favor de Karl R. Popper, tentando demonstrar, na esteira do pensamento popperiano que a filosofia da ciência de Kuhn não é uma posição que se afastou do que pretensamente tentava combater, a saber, o positivismo lógico, e que embora mantenha o progresso descontínuo, sua principal maneira de demarcar a ciência, isto é, por paradigmas, ainda é cumulativa. Concluímos este trabalho observando que o método crítico proposto por Popper, embora não isento de problemas, é uma alternativa mais viável para o progresso entendido como ruptura de teorias do que o modelo de Kuhn, sobretudo por premiar o cientista mais pela imaginação e ousadia ao fazer conjecturas audaciosas do que pela obediência cega a um paradigma.