Liberdade de palavra: uma leitura ética do existencialismo sartreano
Resumo
Esta dissertação busca elucidar o existencialismo sartreano sob uma perspectiva ética, para tanto se utiliza a
literatura enquanto uma maneira irreverente de relação entre o escritor e o leitor. Existem vários meios de
explorar o aspecto ético no pensamento de Jean-Paul Sartre, mas nesta dissertação observamos uma forma mais
elucidativa de explicitá-lo por meio da literatura. Uma vez que a mesma já sugere um apelo entre as liberdades
humanas por meio da relação generosa entre o escritor e o leitor, ambos exigem um comprometimento da
liberdade um do outro e estabelecem uma confiança entre si. A responsabilidade e o engajamento entre o escritor
e o leitor são evidenciados, o protagonismo dos mesmos desempenha a mudança de um olhar receptivo do
mundo para um olhar transformador, agente de ações práticas e significativas no ambiente em que estão
lançados, como coloca Sartre. Para que se fale em literatura e da liberdade de palavra, é necessário antes retomar
algumas colocações de Husserl quanto à concepção de intencionalidade, isto é, toda consciência é consciência
de algo e de que maneira o filósofo aborda o conceito de significação. Enquanto a significação caracteriza-se
enquanto atos doadores de sentido feitos por meio de uma linguagem e, portanto do uso das palavras, indicam os
objetos no mundo, auxiliando os homens no conhecimento dos mesmos. Logo após dessa retomada da
fenomenologia, apresenta-se a leitura sartreana da intencionalidade e posteriormente de como Sartre aborda a
questão da significação. Nota-se que apesar de algumas aproximações das teses husserlianas no existencialismo
sartreano, com a filosofia de Sartre, há uma mudança de perspectiva do intencionar e significar de um aspecto
lógico e epistemológico de Husserl, a um aspecto de desvendamento do mundo em sentido existencial. Nesse
último, a preocupação maior é sobre o ser humano, do que significa existir no mundo, de estar lançado junto aos
outros indivíduos e de como carregar o peso de uma liberdade incondicional, assim como de uma
responsabilidade que não é só por suas ações, e sim por toda a humanidade. Para complementar a questão da
responsabilidade evidenciada por Sartre, a fim de estabelecer um diálogo e reflexão sobre o tema, apresenta-se
algumas colocações de Levinas sobre a responsabilidade e o encontro com o Outro. Faz-se isso devido ambos os
filósofos serem contemporâneos dentro da fenomenologia, e apesar de suas diferenças de pensamentos, os dois
tratam de temas que giram em torno de questões comuns que perpassam o objetivo desta dissertação.