Cartografia regional da leptospirose: dinâmica espaço-temporal da patologia na 4ª Coordenadoria Regional de Saúde, RS.
Fecha
2010-03-31Metadatos
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A leptospirose é uma patologia ubíqua, de veiculação hídrica, com vários reservatórios animais (silvestres e domésticos) e transmissão urbana e rural, recebendo influências
climáticas/socioeconômicas. Suas manifestações variam desde quadros assintomáticos e leves até quadros hemorrágicos fulminantes. Esta pesquisa objetivou avaliar os casos notificados no SINAN pela 4ªCRS, RS, no período de 1999 a 2006, realizando a espacialização regional das ocorrências e buscando correlações com variáveis socioeconômicas e ambientais em escala regional (casos
rurais/4ªCRS) e em escala local (casos urbanos/Santa Maria). Optou-se, na primeira etapa, por um desenho de estudo descritivo do tipo investigação de série de casos, para avaliação da completitude e descrição das variáveis da ficha de investigação e, na segunda etapa, por um desenho de estudo ecológico, explorando comparações geográficas na escala regional e local e de séries históricas na escala local. As ocorrências regionais (131 casos rurais) foram comparadas com variáveis demográficas, antrópicas e geográficas (produção agrícola/pecuária, densidade demográfica e
altitude da sede municipal). Nas comparações geográficas locais, utilizaram-se os casos de infecção urbana em ambiente domiciliar (63 casos/Santa Maria), localizados com levantamento de campo e com ajuda de uma base cartográfica digital do arruamento sobreposta pela grade de setores censitários. Considerou-se: proporção de domicílios improvisados, não ligados à rede de abastecimento de água, sem banheiro ou com esgotamento sanitário irregular, com descarte irregular para o lixo, proporção de pessoas não alfabetizadas e densidade demográfica. Na comparação de
séries temporais, utilizou-se a pluviosidade, as cotas das bacias que drenam o município e as variáveis temperatura e umidade relativa do ar. A análise estatística foi baseada em regressão linear e regressão de Poisson com variância robusta. Adultos de meia idade (51,84%), pessoas do sexo
masculino (68,66%) e pessoas de baixa escolaridade (58,26%) foram mais acometidos. Atividades ligadas à agropecuária (27,14%) e atividades domésticas (12,38%) estiveram presentes na maioria dos casos. Os percentuais de 55,84 e 45,18 estiveram envolvidos, respectivamente, com criação de animais e lavoura. A área rural foi implicada na maioria das situações (48,34%). Unidades de APS centralizaram o maior número de notificações (casos leves). Por outro lado, icterícia, mialgia e congestão conjuntival apresentaram diferenças significantes entre casos notificados e confirmados, sugerindo a hipótese de que esta tríade possa ser utilizada na diferenciação diagnóstica. Da mesma
forma, alterações renais, pulmonares e cardíacas foram constatadas na maioria dos óbitos. A incidência média (por 105 habitantes) e a letalidade acumulada (%) foram respectivamente 11,61 e 4,72 para Santa Maria e 9,81 e 3,23 para a regional e 5,17 e 5,52 para o Estado e 1,80 e 9,57 para o País. No estudo regional a análise estatística e o mapeamento dos casos mostraram uma tendência
(p<0,181) para correlação da ocorrência ou não de casos com a altitude e uma correlação com o rebanho suíno (p<0,037). No estudo local, constatou-se correlação com a densidade demográfica (p<0,035) e a proporção de pessoas não alfabetizadas (p<0,067). A proporção de domicílios não
ligados à rede de abastecimento de água apresentou uma tendência de correlação (p<0,187). Nas comparações de séries cronológicas, a pluviosidade apresentou correlação significante (p>0,053) e a temperatura apresentou uma tendência de correlação (p<0,180) com a ocorrência de casos urbanos. Os dados apontam para a necessidade de mais investimentos em educação e saneamento e levantam a possibilidade de aprofundamento nas questões levantadas quanto ao rebanho de suínos, à sintomatologia e à ocorrência urbana de casos.