Ponte para o devir: um trajeto por entre saberes discursivos
Resumo
Neste trabalho, buscamos refletir acerca do processo de subjetivação respeitante à noção de resistência com referência à constituição do discurso formulado na
comunidade Nova Santa Marta, em Santa Maria (RS), antiga fazenda ocupada em 1991, por um grupo de famílias organizadas pelo Movimento Nacional de Luta pela
Moradia MNLM. O corpus é compreendido por: produções textuais de alunos da Escola Marista Santa Marta, primeira instituição escolar a se estabelecer na
ocupação; fotos da comunidade feitas pelos alunos; entrevistas com líder local do
MNLM e vídeo institucional da Escola e Centro Social Marista. Essas textualidades,
organizadas em torno do discurso de mobilização social, são analisadas com o
objetivo de trazer à tona a historicidade desse discurso, observando-se seu
funcionamento e modo de circular. Nossa atenção se volta mais detidamente sobre
a designação ponte , recorrência fortemente marcada em um grupo de textos, a qual
analisamos como sintoma de algo de outra ordem . Sobretudo, nosso interesse é o
de pensar a língua em consonância ao político que incide na materialidade
lingüística, fazendo intervir conceitos-chave da Análise de Discurso de orientaçãofranco-
brasileira que estão atrelados aos movimentos dos sujeitos e dos discursos
face às urgências sociais. Desse modo, a escuta analítica empreendida permitiu que
(re)pensássemos os conceitos de formação discursiva, luta de classes e resistência,
na emergência de identidades fluidas mediante ao esvanecimento do Estado como
centro totalizante, apontando que a resistência desvinculante não é vetor de um
discurso que possa vir a instaurar singularidades frente a um tempo e espaço de
velocidade, mas reclama por uma intervenção significante de metáforas vinculantes
em benefício de novas estratégias subjetivas.