A região submersa: a conjuntura pós-64 sob as máscaras da sátira e da narrativa policial
Abstract
Este trabalho analisa a obra A região submersa (1978), de Tabajara Ruas, objetivando estabelecer as relações entre ficção e História, e investigando o emprego, na tessitura dessa narrativa, do recurso satírico e dos elementos
intrínsecos inerentes à poética do romance policial. A incorporação dos traços temáticos e estilísticos pertinentes à poética do gênero policial, e sua posterior transgressão, engendrada pelas artimanhas discursivas do narrador e pelo
viés satírico, acabam por subordinar o entretenimento aos propósitos da crítica política, possibilitando emergir o caráter de denúncia que se encontrava mascarado nos interstícios dessa literatura dita menor . As estratégias transgressivas operadas no texto de Tabajara Ruas têm como propósito
efetivar uma reestruturação das convenções estilísticas dessa narrativa policial, direcionando-as a empreender um percurso contrário àquele preconizado por tal gênero narrativo, ou seja, invertendo sua função de aceitação da ordem dominante e utilizando-as para desmascarar e, portanto, ridicularizar, um dos propósitos relevantes do Regime Militar instaurado no
Brasil (1964-1985): a abertura do país para entrada do capital multinacional. Abertura essa, cuja concretização foi urdida mediante a articulação de uma retórica ufanista e sustentada pela atuação truculenta dos aparelhos repressivos estatais, conforme denuncia o romance em questão nos termos
que tencionamos demonstrar na presente proposta.