Do lugar do lingüista e da língua como objeto de divulgação
Abstract
O problema de pesquisa sobre o qual nos propomos refletir tem como foco a língua enquanto um objeto de divulgação. Chamamos atenção para o fato de que o discurso de divulgação científica funciona como um mercado de informações na sociedade de consumo, de modo que a língua, neste cenário, também figura em sentidos utilitaristas e inscritos em uma perspectiva empírica de ciência, mesmo que
em posição historicamente marginal. Nosso corpus é constituído pelas revistas A Cigarra (anos de 1950) e Língua Portuguesa (anos 2000), que representam diferentes estados no processo discursivo e enfatizam a significação da língua como objeto de divulgação ao longo da formação sócio-histórica. Dessas publicações, focalizamos os textos escritos pelos lingüistas Joaquim Mattoso Câmara Jr. e José
Luiz Fiorin, com o propósito de analisar a maneira pela qual eles se significam na posição de divulgadores, observando os vestígios constituintes do discurso. Nosso estudo mostra que a língua significa como um produto no discurso de divulgação
científica e que sua difusão por tais lingüistas é a manifestação de um pretexto, em que pese a necessidade de divulgar as ciências da linguagem para reconhecimento
e atenção das políticas públicas e sociedade em geral, em contraponto ao senso comum do qual a mídia recorrentemente reveste-se ao referendar a língua como objeto. A perspectiva teórica que norteia nossa pesquisa é a análise de discurso
postulada por Michel Pêcheux e desenvolvida no Brasil por Eni Orlandi, entre outros pesquisadores.