Análise polifônica de estereótipos na mídia: uma nova identidade para a mulher na maturidade?
Date
2010-05-28Metadata
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Ainda hoje, a violência exercida por discursos de exaltação da juventude supõe um modelo de desvalorização do envelhecer, como se não pudesse mais existir o desejo nem o acesso a direitos elementares. Isso é mais significativo para as mulheres que, até o século XIX, tinham na menopausa o marco final da vida fértil e o término da feminilidade. Entretanto, a imagem das ―avós‖ não é mais a mesma, muitas têm autonomia para usufruir tanto dos avanços cosméticos quanto das conquistas feministas das últimas décadas. A pós-modernidade evidencia essas transformações sociais rápidas e profundas, as quais criam uma tensão que ora pressiona no sentido da estabilização de uma nova ordem social, ora pressiona continuamente pela mudança. Embora a rigidez própria dos estereótipos não implique necessariamente em uma percepção falsa da realidade, como eles adquirem alto grau de estabilidade e convencionalidade social no tempo, mesmo quando os atores sociais que os detêm dispõem de ulteriores informações que invalidam o seu conteúdo, são dificilmente alteráveis. Quanto à identidade, sendo uma descrição continuamente substitutiva de nós mesmos, no caso da mulher são árduas e lentas as mudanças sociais, pois cada alteração deve desconstruir processos históricos de séculos de preconceitos e crenças, solidamente estratificados. O modo como são construídas as identidades através da linguagem é central na definição de como nos engajamos e engajamos os outros no discurso e construímos significados. Nesse sentido, a mídia tem um papel preponderante na construção de novos estereótipos e reforço de antigos, refletindo ideias que circulam no cotidiano social, e refratando conceitos, distorcendo-os, de maneira a chegar aos leitores uma história construída pela voz da instituição. Uma análise crítica e feminista do discurso localiza discursos que tentam manter relações de poder que privilegiam os homens como grupo social e excluem e enfraquecem as mulheres como tal. Apesar da linguagem da mídia ser um espaço onde se acredita haver imparcialidade, verifica-se formas gramaticais presentes nos textos que sinalizam o controle exercido sobre uma ocasião social, no caso, sobre o gênero discursivo reportagem, lugar privilegiado para o confronto entre os discursos dos atores sociais. A metodologia, de caráter polifônico por estar aberta a vozes sistemáticas, críticas e dialógicas, combinou as abordagens da Linguística Sistêmico-Funcional, da Análise Dialógica do Discurso e da Análise Crítica do Discurso. A análise qualitativa revelou a existência de forças centrípetas que aspiram ao monologismo e buscam o fechamento, bem como padrões discursivos ditos ―masculinos‖ ainda diretamente responsáveis formação identitária da mulher na maturidade.