Apropriação e reutilização de resíduos culturais: práticas serializantes em Amazona, de Sérgio Sant'Anna
Abstract
Esta pesquisa teve por objetivo analisar na obra Amazona, do escritor brasileiro Sérgio
Sant Anna, de que modo as novas formas literárias da contemporaneidade vêm se valendo de
procedimentos de representação serializantes, próprios dos discursos e/ou veículos
provenientes do âmbito da cultura de massa. O primeiro capítulo busca situar a escritura
literária de Amazona dentro de um cenário cultural em fase de esgotamento, que opera o
enfraquecimento dos modelos ilustrados de representação e possibilita a emergência de novas
formas literárias, que primam pela apropriação, pelo desvio, pela reescritura, pela
secundariedade, pela simulação. No segundo capítulo, que trata dos procedimentos de
hibridização discursiva presentes em Amazona, o objetivo é destacar a influência, na tessitura
narrativa da novela, de imagens e procedimentos de composição caracteristicamente
folhetinescos, mapeando os aspectos nos quais a narrativa se assemelha ou se conforma ao
discurso serializado dessa literatura de entretenimento. A partir dessas considerações, torna-se
possível, então, já no último capítulo, determinar de que modo a narrativa se apropria desses
discursos com o intuito de reciclá-los e ressignificá-los, à medida que os retira de seu meio de
origem e os insere em um novo contexto de produção. Por outro viés, se é notória em
Amazona a tentativa de configurar uma novela que se comporta e em muitos aspectos simula
as típicas narrativas de matriz folhetinesca, também é possível que se observe a incorporação
ao universo ficcional de instâncias discursivas diretamente provenientes do âmbito
cinematográfico. A Sétima Arte atua, assim, em Amazona, de modo a influenciar boa parte da
organização narrativa, marcando a construção de narrador, personagens, tempo e espaço e
abrindo margem à formação de uma escritura que tende em muitos aspectos para a realização
fílmica.