"Peleia" luso-castelhana e os efeitos de sentidos em o linguajar do gaúcho brasileiro de Dante de Laytano
Resumo
Esta dissertação resulta de um estudo investigativo sobre a organização do
discurso historiográfico referente à formação étnica e sociohistórica do habitante do sul do
Brasil, identificado como gaúcho brasileiro, refletido em sua linguagem ou modo de falar,
que reúne elementos da língua portuguesa e espanhola. Tendo como corpus a obra de
Dante de Laytano, intitulada O Linguajar do Gaúcho Brasileiro, editada em 1981, a pesquisa
buscou nela identificar o tratamento dado pelo autor aos dois domínios de estudo: língua e
historiografia sobre os quais estabeleceu seu ponto de vista acerca da representação da
origem da língua do gaúcho, a partir das fontes por ele consultadas e referenciadas na obra
supra. Para alcançar o objetivo proposto e obter respostas as questões norteadoras da
pesquisa, buscou-se nos conceitos da Semântica do Acontecimento e da Análise de
Discurso (AD) o embasamento que possibilitou a análise e a reflexão de como os elementos
da língua operaram nos textos de historiografia sobre a linguagem característica do gaúcho
brasileiro a qual é denominada de linguajar pelo autor acima. A luz da AD, fica evidenciado
na obra em questão um discurso sobre este linguajar, discurso este que está em circulação
e continua ressignificando a história social do gaúcho e produzindo efeitos de sentido, ao
instaurar um linguajar para ele. A Semântica do Acontecimento possibilitou a análise da
relação entre a questão da designação e o interdiscurso da sequências enunciativas (SEs)
identificadas, na obra em estudo, que reescrituram o denominado linguajar do gaúcho
brasileiro, além de buscar também destacar suas regularidades e/ou conflitos. O estudo
realizado permite concluir que: a) a obra O Linguajar do Gaúcho Brasileiro (1981) procura
referenciar a matriz lusa da linguagem do gaúcho, ou seja, reafirmar a sua identidade, que é
brasileira; b) nessa obra, o autor evidencia que a memória discursiva é significada pelo
memorável da língua portuguesa, estabelecendo relações de conflito com a língua
espanhola (espanholismos), silenciando os sentidos atribuídos ao regional e ao local, em
busca da unidade da língua portuguesa, mas neste caso, podendo ser considerada como
língua brasileira, constitutiva da identidade do gaúcho e do seu linguajar. Devido à
importância da língua para a comunicação, a identidade, a integração e a unidade dos
cidadãos de um mesmo país ou entre países, tal como é o caso do gaúcho brasileiro,
entende-se que esta pesquisa poderá suscitar novos estudos para a designação, já que, de
um lado esta abordagem amplia as possibilidades de análise do nome e das fontes estas
enquanto recursos historiográficos sob a perspectiva da Semântica do Acontecimento; de
outro lado, estudos sobre as questões de interdiscurso, a partir do funcionamento
semântico.