Letramento científico em ciência da linguagem no gênero livro didático de ILA
Resumo
Consideramos a presente pesquisa um acréscimo às investigações do discurso da ciência em LDs no contexto educacional. Os LDs são gêneros que popularizam o discurso de um campo da ciência para o contexto educacional. Nesse sentido, esta pesquisa objetiva verificar em que medida conceitos, mobilizados contemporaneamente no campo da Ciência da Linguagem, tais como aprendizagem sociocultural, linguagem como gênero e leitura como letramento crítico, são popularizados no LD de ILA de tal forma que promovam o letramento científico em LA dos alunos. O letramento científico é um processo complexo que envolve mais que práticas de leitura e escrita restritas ao campo da ciência. O letramento científico diz respeito à compreensão de produtos da ciência, à atitude diante do conhecimento científico e à capacidade de discutir e se posicionar frente a valores instituídos pelo impacto da ciência. Em Ciência da Linguagem, no LD de ILA, por exemplo, o letramento científico pode possibilitar o desenvolvimento da argumentação, por meio do diálogo, um modo social de interação. O corpus de análise é composto por três seções de leitura da coleção Globetrekker Inglês para o Ensino Médio. Nossa análise consiste de uma investigação textual, em que 44 orações dos enunciados das atividades de leitura foram analisadas, e contextual, em que investigamos o site do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), o Guia de Livros Didáticos PNLD 2012, o site da Editora Macmillan e o Guia do Professor (GP). Como referencial teórico metodológico, adotamos a Análise Crítica de Gênero (MEURER, 2002; MOTTA-ROTH, 2006) que envolve a descrição, interpretação e explicação do contexto e do texto do gênero em questão. Os resultados apontam que, em geral, as atividades de leitura analisadas pouco ensejam o letramento científico em Ciência da Linguagem em ILA dos alunos no que tange os conceitos de aprendizagem sociocultural, linguagem como gênero e leitura como letramento crítico. Com relação à aprendizagem sociocultural, há uma grande abertura à interação, por meio do diálogo, em que os alunos podem expressar e defender pontos de vista, elaborando argumentação com base no seu contexto situado. No entanto, no que tange os conceitos de linguagem como gênero e leitura como letramento crítico, as atividades privilegiam outros conceitos em detrimento desses. O contexto do texto não é explorado, quem escreve, para quem se escreve e o porquê se escreve são aspectos que carecem de mobilização. As atividades enfocam o conteúdo proposicional e a organização estrutural do texto. Nesse sentido, privilegia-se uma abordagem em que a linguagem é concebida como produto, não como processo. Ao conceito de leitura como letramento crítico é dado pouca ênfase, as atividades de leitura timidamente abordam a construção de sentido, em termos de ampliar consciência de como, porque e a que interesses e visões os textos podem favorecer. Sendo assim, entra em jogo o papel do professor de mediador, que oferece ao aluno de ILA o maior número de oportunidades que podem o levar à aprendizagem.