Criação e repressão: Caio Fernando Abreu e a censura no Brasil da segurança nacional
Abstract
Este trabalho inscreve-se na jurisdição dos estudos literários de comparatismo e crítica social. Nesse sentido, além de buscarmos uma explicação da especificidade estética, acreditamos na significativa importância do extraestético na construção do texto literário como um objeto-signo, portador de uma posição axiológica e potencialmente ideológica e, portanto, da relação entre literatura e história. É com esse modo de entendimento que abordamos nosso objeto de estudo, a obra O ovo apunhalado , de Caio Fernando Abreu, no contexto da Ditadura Militar brasileira, sobremodo com o objetivo de elucidar os motivos pelos quais determinadas narrativas foram censuradas. Para atingir nosso propósito, recorremos aos conceitos teóricos alinhados ao marxismo e ao pensamento do Circulo de Bakhtin, como as relações estruturais e superestruturais, dialogismo, meio ideológico, reflexo e refração para uma compreensão do contexto de produção e da singularidade da construção artística. Compreendendo a censura como um objeto-signo integrante do meio ideológico que circundava o escritor, comparamos as narrativas vetadas com a legislação acerca de censura, sendo-nos possível objetivar os motivos que levaram à proibição sem recairmos em subjetivismos. Com isso, percebemos a obra de Caio Fernando Abreu como um contraponto simbólico ao autoritarismo do governo militar, sobretudo ao expressar, articulando forma e conteúdo, temas indesejados pelo governo segundo a retórica da Segurança Nacional. O trabalho está dividido em três capítulos: o primeiro, dedicado a uma revisão da fortuna crítica sobre o autor analisado e à exposição do conceito de dialogismo; o segundo delimita as bases teóricas e metodológicas; e o terceiro esmera-se na construção de uma explicação plausível para a censura na obra O ovo apunhalado , efetuando uma leitura possível das narrativas proibidas e a comparação com as leis sobre censura.