Do silêncio ao grito: o modo de figuração das vozes em Levantado do chão, de José Saramago
Resumo
“Do silêncio ao grito: O modo de figuração das vozes em Levantado do Chão, de José
Saramago” tem como objeto de estudo o romance de 1980 que narra a saga dos
camponeses alentejanos em Portugal durante três quartos de século, sendo desses,
mais de quarenta anos sob a ditadura militar Salazarista. Na obra, o autor laureado
com o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1998, com compaixão e ironia torna
compreensível uma realidade esquecida ao narrar a vida de uma família de
agricultores do sul de Portugal. Conforme apresenta as protagonistas o romance
constrói um panorama do contexto, forma uma visão abrangente do modo de vida não
só delas, mas daqueles que as exploram. Com uma escrita vigorosa em denunciar a
miséria, a exploração e a violência acometidas ao povo, o autor relaciona as diferentes
perspectivas que contam a história – do latifúndio, do clero e dos trabalhadores –,
corroborando-as de modo a prevalecer uma leitura empática com o ponto de vista
daqueles que foram injustiçados. A representação dos discursos sociais no romance
é amparada teoricamente pela abordagem linguística-literária de Mikhail Bakhtin. A
organização dessas perspectivas em uma estrutura que corrobora para que pontos
de vista contrários culminem em uma leitura defensiva da ideologia das protagonistas,
devido à condução e intervenção constante do narrador, é abordada neste trabalho
com base na teorização de perspectiva estruturante do estudioso da narratologia
contemporânea Ansgar Nunning. No desenvolvimento da narrativa é percebido, ainda,
ao longo das três gerações da família Mau-Tempo, a modificação no discurso dos
camponeses alentejanos, cujo nível de consciência política de inexistente, despertase
com o aprendizado sobre a necessidade de luta por direitos que lhes são negados
e avança até a tomada de atitude frente aos patrões, a conquistarem jornada de
trabalho menos exaustiva, salário digno e posse das terras cultivadas. Encontra-se
nessa dissertação, portanto, uma reflexão acerca das diferentes vozes sociais
narradas em Levantado do Chão, e como elas se configuram em uma organização de
perspectivas paralelas e inter-relacionadas, de acordo com a condução do narrador
saramaguiano, cuja narração defende a perspectiva ideológica dos trabalhadores
portugueses e seu discurso que se modifica de forma progressiva no romance.
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