Taurina previne déficit na consolidação da memória em novo modelo de blackout induzido por etanol em peixe-zebra
Resumo
A intoxicação e a dependência causadas pelo álcool estão entre os principais problemas
de saúde pública e o abuso desta substância pode afetar órgãos e tecidos, bem como
comprometer a coordenação física, percepção e cognição. A intoxicação alcoólica pode
acarretar em déficits cognitivos, induzindo amnésia ou “blackout”, um defeito agudo na
formação de novas memórias resultante de um rápido aumento de etanol no sangue. Devido aos
aspectos negativos proporcionados pelo uso do álcool, buscam-se novas formas de prevenção
contra os efeitos deletérios dessa droga. Assim, a taurina surge como um potencial alvo de
estudo, pois é um aminoácido envolvido na modulação da atividade neuronal, transdução de
sinais e osmorregulação, além de ser conhecida por suas propriedades antioxidantes e por
antagonizar os efeitos neurotóxicos do glutamato. A fim de verificar um potencial efeito
protetor da taurina sobre o déficit cognitivo induzido pelo etanol, utilizamos o aparato da
esquiva inibitória. Para atingir os objetivos, primeiramente padronizou-se uma frequência de
choque específica que causa retenção significativa da memória no peixe-zebra. Posteriormente,
verificamos se o etanol afeta a consolidação memória de forma dependente da concentração e
se os pré-tratamentos com taurina previnem os déficits cognitivos induzidos pelo álcool. O
aparato da esquiva inibitória consiste em um aquário divido em dois compartimentos de mesmo
tamanho, sendo uma área escura e outra clara, as quais são separadas por uma divisória do tipo
guilhotina. Três barras de metal paralelas são acopladas em cada lateral da área escura,
conectadas a um estimulador elétrico. Diferenças na latência para entrar no compartimento
escuro foram usadas como índices de retenção. Animais submetidos a um choque elétrico (125
mA, 3 ± 0,2 V) de 10 e 1000 Hz não desenvolveram aprendizado significativo, enquanto 100
Hz proporcionou a retenção da memória, sendo esta frequência escolhida para experimentos
subsequentes. Os tratamentos foram realizados imediatamente após a sessão de treino. Os
animais foram expostos à água (controle), taurina (42, 150, 400 mg/L), etanol (0,25%, 1,0%
v/v) ou taurina mais etanol, para avaliar os efeitos na consolidação da memória. A sessão de
teste foi realizada 24 horas após o treino. O etanol na concentração de 0,25% não causou déficit
cognitivo, mas 1,0% prejudicou a consolidação da memória sem alterar a locomoção. A
administração pós-treino de MK-801 provocou uma resposta semelhante, sugerindo que a
amnésia induzida por etanol pode ocorrer através da inibição da neurotransmissão
glutamatérgica. Embora a taurina sozinha não tenha modulado o aprendizado, todas as
concentrações testadas impediram o comprometimento da memória. Dessa maneira, o presente
trabalho propõe um novo modelo de blackout induzido por etanol e demonstra o papel protetor
da taurina, reforçando a utilidade crescente do peixe-zebra para avaliar os efeitos deletérios do
álcool e possíveis estratégias terapêuticas.
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