As faces de uma personagem realista: um estudo sobre a figuração de Amélia em O Crime do Padre Amaro
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Data
2022-02-22Autor
Carvalho, Litiele Oestreich
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Mostrar registro completoResumo
O presente estudo tem por norteamento central uma análise sobre a construção da personagem
Amélia Caminha do romance realista-naturalista intitulado O Crime do Padre Amaro, de Eça
de Queirós, publicado pela primeira vez em 1875. O interesse pela personagem escolhida se
deve às especificidades de seu processo de construção no romance, dado o seu protagonismo e
complexidade na história. É justamente sobre a figuração da personagem que recai nossa
atenção. A noção de figuração é promulgada pelo teórico português Carlos Reis (2015) como
uma forma de representação de personagens, que envolve um processo dinâmico, gradual e
complexo. Desse modo, procuramos esboçar uma leitura para a personagem, mais abrangente
do que o enfoque na descrição e na caracterização, considerando os diferentes recursos
linguísticos projetados no discurso narrativo, cotejando a relação da personagem com outras
categorias de análise literária (tempo, espaço, narrador-focalizador) e a perspectiva das demais
personagens do romance. As análises indicam que a personagem passa por três momentos
expressivos que constituem a sua figuração: o primeiro de estabilidade (psicofísica e social) em
que ela apresenta uma identidade nominal associada à beleza e à juventude; o segundo momento
é de instabilidade, a partir da sua relação amorosa com o padre Amaro, em que a personagem
passa por conflitos psicológicos e emocionais, explorados pelo narrador pela focalização
interna; e o terceiro momento é o de transformação de sua imagem inicial, marcada pela
alteração de suas características, em que os signos linguísticos apontam para a degradação
psicofísica e moral. O percurso da personagem é descrito através do campo semântico do fogo
que vai ganhando novos matizes de acordo com o seu grau de envolvimento com Amaro.