Movimentos da professoralidade: a tessitura da docência universitária
Resumo
Este trabalho volta-se à compreensão acerca dos movimentos que perpassam o fazer-se
docente, focalizando a tessitura da professoralidade universitária. Este processo diz respeito aos
movimentos de criação que o professor produz ao longo de sua trajetória docente, configurando
modos de pensar, agir e sentir-se professor. Nesta perspectiva, como problema norteador do
estudo estabeleceu-se: que movimentos são produzidos na tessitura da professoralidade
universitária? A partir desta questão emergem como objetivos: identificar a repercussão das
experiências formativas na produção da docência universitária; reconhecer os processos
engendrados na construção da professoralidade no que se refere às dimensões de reprodução e
de criação da docência universitária; compreender as relações entre os conhecimentos do campo
específico e do campo pedagógico na produção da docência deste nível de ensino. A abordagem
metodológica adotada para o desenvolvimento do estudo foi à qualitativa narrativa de cunho
sóciocultural. Como sujeitos colaboradores do estudo estão oito professores atuantes na
Universidade Federal de Santa Maria, os quais a partir da entrevistas-semiestruturadas foram
convidados a narrar e [re]visitar seus percursos formativos como professores no ensino superior.
A matriz teórica de sustentação teórica da investigação é a teoria histórico-cultural, em especial
a teoria da atividade (VYGOTSKI, 2003, 2005, 2007; LEONTIEV, 1984, 1988, 1989), aliando aos
estudos sobre cotidiano (HELLER, 1991, 1982b, 2008) e sentimentos (HELLER, 1982a) cuja
origem vincula-se com o materialismo histórico. Referenciou, ainda, os estudos que compõe a
pedagogia universitária representados em Isaia e Bolzan (2004, 2005), Bolzan e Isaia (2006),
Cunha (2006, 2008, 2009, 2010), Pimenta e Anastasiou (2002) Mizukami (2006), bem como
estudos relativos à formação de professores e desenvolvimento profissional docente como
Ramalho (et al2004) Imbernon (2006), Novoa (1991,1992), Tardif (2006, 2007), Gauthier ( et al
2006) entre outros. A pesquisa realizada permitiu-nos destacar a professoralidade universitária
emergindo da confluência de uma produção caracterizada pela docência no imediatismo, que se
amplia em direção a um processo de personificação da docência, revelando produção do ser
professor como um processo ascendente de construção, o qual tem na configuração e
[re]configuração da atividade de produzir-se como professor, a expressão do devir professoral.
Como movimentos dinamizadores deste processo estão o de particularização e o de
individuação, os quais expressam rupturas e continuidades como dimensões reflexivas da
construção docente, manifestando a superação dialética como marca dos movimentos
constituintes da professoralidade. Nesta perspectiva, os movimentos de particularização e de
individuação evidenciam as integrações estabelecidas entre a esfera da cotidianidade e a da não
cotidianidade docente, permitindo-nos destacar a professoralidade como um processo que se
atualiza e se configura no intercambio das relações que perfazem as ações práticas e reflexivas
do professor. Como embate presente, estão as rupturas com as apreciações valorativas acerca
do ser professor, nas quais prepondera a ideia de uma aprendizagem que se realiza no âmbito
particularista e solitário do fazer-se professor.