Mecanismos de toxicidade de Duguetia furfuraceae A. St.-Hill no modelo de Drosophila melanogaster e avaliação do potencial antifúngico.
Resumo
Duguetia furfuracea é um arbusto comum em áreas do cerrado brasileiro, conhecida como ata brava , costuma ser usada como planta medicinal especialmente no combate a cólica renal e reumatismo. Entretanto, estudos farmacológicos com extratos obtidos de diferentes partes dessa planta têm evidenciado atividades citotóxica, bactericida e antitumoral. Assim, esse trabalho teve como objetivos identificar e quantificar os compostos fenólicos do extrato hidroalcoólico das folhas de Duguetia furfuracea (EHDF) e frações metanólica (Mt-OH) e acetato de etila (Ac-OEt) por meio de HPLC, e realizar triagem fitoquímica para diferentes classes de compostos. Ainda avaliar a atividade antioxidante por meio dos ensaios DPPH e FRAP, a toxicidade do extrato bruto no modelo de Drosophila melanogaster, a atividade antifúngica e modulatória do extrato e frações. A triagem fitoquímica revelou presença de alcalóides, taninos, xantonas, chalconas, flavonoides, auronas e ácidos fenólicos. A análise por HPLC no EHDF revelou como principais componentes ácido caféico (33,17 ± 0,03 mg/g) e rutina (20,56 ± 0,01 mg/g), para a fração Mt-OH, o ácido caféico (32,47 ± 0,03 mg/g) e quercitrina (31,96 ± 0,03 mg/g), e para Ac-OEt, quercitrina (32,97 ± 0,03 mg/g) e isoquercitrina (31,56 ± 0,01 mg/g). Os mais altos níveis de fenois e flavonoides totais foram encontrados na fração Ac-OEt, entretanto, o extrato bruto apresentou maior poder antioxidante (in vitro) do que as frações. A toxicidade do extrato foi confirmada no modelo in vivo Drosophila melanogaster. O extrato promoveu aumento significativo da mortalidade no terceiro dia de exposição das moscas nas concentrações mais altas (100 e 200mg/ml). A concentração de 50mg/ml promoveu redução na motilidade das moscas. A atividade da acetilcolinesterase (AchE) foi aumentada nas moscas expostas as concentrações de 1 e 10 mg/ml e inibida na concentração de 50 mg/ml do EHDF. A viabilidade celular das moscas foi significativamente comprometida em todas as concentrações do EHDF (1; 10 e 50mg/ml) embora tenha sido observado um aumento significativo na produção de espécies reativas de oxigênio apenas nas moscas expostas a concentração de 50mg/ml. Nesse contexto foram avaliadas as defesas antioxidantes de D. melanogaster A exposição das moscas as concentrações de 1 e 10 mg/ml do HEDF resultou em aumento significativo na atividade das enzimas Glutationa s-transferase (GST), Superóxido dismutase (SOD) e Catalase (CAT), entretanto, na concentração de 50 mg/ml do extrato, houve diminuição na atividade da GST sem alterações na atividade da SOD e CAT. A clivagem da PARP, investigada como índice geral de morte celular por apoptose, foi confirmada nas moscas expostas a todas as concentrações do EHDF. Ainda a exposição das moscas a 10 mg/mL do EHDF aumentou significativamente a fosforilação de ERK. O extrato e frações testados contra Candida albicans, Candida tropicalis e Candida krusei não apresentaram atividade fungicida considerando que a concentração inibitória mínima (CIM) foi ≥ 1,024 μg/ml para todas as estirpes de fungos testadas. Entretanto, o extrato e as frações Ac-OEt e Mt-OH apresentaram efeito sinérgico quando associadas ao fluconazol, indicando ação moduladora contra fungos mediante associação a medicamento clinicamente relevantes. O EHDF e a fração Mt-OH potencializaram o efeito do fluconazol quando testados contra a C. kruzei, e a fração Mt-OH também apresentou sinergismo com fluconazol contra C. tropicalis. A fração Ac-OEt potencializou o efeito do fluconazol contra C. albicans. O conjunto dos resultados sugere que o estresse oxidativo pode ser um mecanismo importante subjacente a toxicidade induzida por Duguetia furfuracea em Drosophila melanogaster, e atividade modulatória do extrato e frações junto ao fluconazole amplia as aplicações biomédicas de Duguetia furfuracea.