Estudo dos desvios de fala em pré-escolares de escolas públicas estaduais de Santa Maria - RS
Resumo
Este estudo teve por objetivos estimar a prevalência de desvio de fala em uma amostra de pré-escolares de escolas públicas, verificar a prevalência do desvio quanto ao sexo,
classificar os desvios quanto ao tipo e à severidade, verificar se em crianças com desvios fonológicos há presença de atraso na aquisição da linguagem, caracterizar o inventário
fonético e o sistema fonológico e verificar quais os fonemas mais alterados. A amostra foi formada por 91 sujeitos, de ambos os sexos, com idades entre 5:7 e 7:5. Todos foram
submetidos às avaliações fonoaudiológicas e fonológica, realizadas para determinar o tipo e o grau de severidade do desvio de fala, bem como o inventário fonético e o sistema
fonológico. Para análise estatística, foram utilizados o Teste Qui-quadrado, a análise de variância, o teste Kruskal-Wallis e o teste t, com nível de significância de 5% (p<0,05). Os
dados foram submetidos ao software SPSS 8.0. Dos 91 sujeitos, 46 (70,3%) apresentaram fala com desvio, e os outros 27 (29,7%) apresentaram aquisição de fala normalizada
(GAFN). Ao considerar os resultados obtidos por tipo de desvio, a prevalência foi de 18,55% para os desvios fonológicos (GDFo), 2,10% para o desvio fonético (GDFe) e 5,24% para o desvio fonológico-fonético (GDFoFe). Não foi constatada associação entre atraso no processo de aquisição da linguagem e tipo de desvio. Verificou-se associação
estatisticamente significativa entre o sexo masculino e o grupo com desvio de fala, o sexo feminino e GAFN, o GDFe e a postura alterada de língua, o GDFo e inventário fonético
incompleto, o GAFN e o inventário fonético completo, o GDFo e sistema fonológico alterado e os GDFe e GAFN e o sistema fonológico adequado. Os sons com maior número de
omissões no inventário fonético foram: /з /, /z/, /r/, /λ / e /g/ no GDFo, e /r/, /g/, /z/, / ∫ / e / λ / no GDFoFe. Os grupos GDFe e GAFN apresentaram PCC significativamente maior que o do GDFoFe. Os fonemas com mais alterações no sistema fonológico foram: /r/, /λ /, /з / ∫ / e /z/ no GDFo, e / ∫ /, /λ /, /r/, /g/ no GDFoFe. Em ambos os grupos, a maioria dos sujeitos apresentou dificuldades com o onset complexo, com apagamento das líquidas /r/ e /l/. Quanto aos traços distintivos, foi verificado que os GDFo e o GDFoFe apresentaram número de traços alterados estatisticamente significativo e maior que o GAFN e que os traços mais
alterados foram [+voz] ®[-voz], [-ant] ®[+ant], [+cont] ®[-cont], [-voc] ®[+voc], no GDFo, e [-ant] ®[+ant], [+voz] ®[-voz], [+ant] ®[-ant], no GDFoFe. Conclui-se, dessa forma, que há alta prevalência de desvios de fala em pré-escolares na população estudada, e quanto maior o número de sons ausentes no inventário fonético, maior pode ser a severidade do desvio. Além disso; o maior número de alterações na classe das fricativas e líquidas sugere que os sujeitos com desvios fonológico ou fonológico-fonético utilizam estratégias
semelhantes, embora não idênticas, às das crianças com desenvolvimento fonológico adequado, pois essas classes de fonemas são, de acordo com a literatura consultada, as
últimas a serem adquiridas.