Saberes do professor de filosofia no nível médio
Resumo
A luta pela obrigatoriedade da filosofia no ensino médio, que vem desde os anos 80, trilhou um caminho em que as discussões sobre o tema não colocavam como pauta importante as questões micro que envolvem a discussão sobre a especificidade do ensino da filosofia na sala de aula e as alternativas possíveis para que a filosofia realmente se inserisse no ensino médio. Para efetivar esta pesquisa que procura identificar a existência de saberes construídos na ação pedagógica pelo professor de filosofia em sua atuação na sala de aula no ensino médio, foram entrevistados professores que são formados em filosofia e que atuam no ensino médio e na escola pública da 8ª CRE sediada em Santa Maria-RS. A entrevista semi-estruturada foi gravada e posteriormente analisada através das seguintes categorias: 1° - Ação do professor de filosofia. 2° - Concepção de filosofia. 3° - Dualismos da prática docente. 4° - Saberes do ensino da filosofia. A partir desta análise são identificados alguns dualismos que perpassam a ação do professor na sala de aula. Estes dualismos são: Espaço/tempo na relação ensino e aprendizagem da filosofia; Organização dos conteúdos em grupo e trabalho individual do professor; formação inicial e atuação docente; maneira tradicional de trabalhar e alternativas docentes; história da filosofia e temas; burocracia e docência; filosofia como formadora e utilitarismo/imediatismo. A compreensão e a administração dos conflitos gerados por esses dualismos possibilitam a identificação de saberes docentes inerentes à ação do professor de filosofia. A possibilidade de aproximar estes dualismos aponta para um professor muito preocupado em se achegar afetivamente ao seu aluno, que é o primeiro passo para o ensino da filosofia. Uma filosofia que desperte o aluno dos dogmatismos do senso comum, sendo significativa para ele. Este mesmo professor percebe que sem diálogo o exercício do filosofar torna-se inviável. No entanto sua atuação fica comprometida devido a experiências que o marcaram em sua formação inicial. O professor olha para si como alguém que fala demais, e que centraliza as discussões. Esta sua atitude centralizadora tem relação com o conceito de filosofia que ele utiliza para organizar seu trabalho pedagógico. Falando sobre seu trabalho hoje o professor afirma que sua formação inicial pouco contribui para a sua ação docente, a não ser o encontro com os grandes referenciais teóricos da história da filosofia. Ao aproximar a história da filosofia dos temas de interesse dos alunos, e ao despertar neles a necessidade de pensar o próprio cotidiano, os professores acreditam estar filosofando, o que a formação inicial não o ensinou, por estar muito distante da realidade do aluno do ensino médio. Este trabalho se propõe a mostrar que é possível ensinar filosofia e que na prática não há separação entre ensinar filosofia e filosofar, desde que sejam rompidos os dualismos inerentes a ação do professor no ensino médio.