A formação continuada dos professores das escolas de educação básica da rede municipal de Alegrete/RS: um olhar sobre os processos de constituição da identidade profissional e docente
Resumo
Esta pesquisa, desenvolvida no âmbito da Linha de Pesquisa Formação, Saberes e Desenvolvimento Profissional do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM/RS, teve como objetivo compreender os processos de constituição de identidade docente possibilitados pelos modelos formativos que orientam as políticas de formação continuada de professores em serviço, planejadas e realizadas pela rede do município de Alegrete/RS. Nossa problemática de pesquisa visa compreender de que formas as ações de formação continuada de professores em serviço, desenvolvidas por Escolas de Educação Básica, condicionam o processo de constituição da identidade profissional docente dos professores participantes. De modo a operacionalizar as ações de pesquisa, o problema central foi desdobrado em questões investigativas mais específicas que buscam saber: a) como se caracterizam as ações de formação continuada de professores em serviço, promovidas e desenvolvidas em EEB na rede municipal de Alegrete/RS; b) que desafios costumam ser enfrentados pelas escolas para a organização e o desenvolvimento de ações de FC; c) quais são as concepções de docência que costumam orientar as ações de FC; d) que aspectos são considerados pelos docentes como definidores de sua identidade profissional. Classificamos nossa pesquisa como de natureza qualitativa. A coleta de informações se deu mediante a realização de entrevistas com 18 professores dos Anos Iniciais, 5 coordenadores pedagógicos e 4 membros da SMEC; bem como pela realização de observações sistemáticas dos encontros formativos em 5 EEB, e a utilização de roteiros de análise textual dos projetos político-pedagógicos dessas escolas, e dos Princípios e Diretrizes Educacionais da Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Os resultados apontam que as ações de FC têm como referência principal as concepções dos coordenadores pedagógicos e das equipes diretivas. Os formadores das ações são geralmente especialistas ou professores da rede de ensino. A FC ocorre no espaço escolar de forma pontual, seguindo um calendário previamente estabelecido. Os principais desafios enfrentados pelas escolas no desenvolvimento das ações se referem ao planejamento coletivo da FC; à falta de organização das ações, às temáticas desvinculadas dos interesses e necessidades dos docentes; ao despreparo dos formadores, e à participação e envolvimento dos professores. Esses desafios decorrem de vários aspectos, tais como: criar condições para que os docentes participem dos encontros, o que por vezes é dificultado pela carga horária, ou até mesmo pela falta de entendimento da relevância da FC para o exercício da profissão. Quanto às concepções de docência que fundamentam os processos de FC, constatamos nos documentos e na fala dos professores, aspectos que condizem com os modelos de profissional reflexivo e de intelectual crítico, que exerce o seu protagonismo de forma autônoma na escola. Já na fala dos coordenadores pedagógicos notamos uma maior incidência de aspectos que se relacionam com o modelo de técnico especialista, que aplica os conhecimentos recebidos no alcance dos objetivos propostos. Os professores e os coordenadores pedagógicos se referem à FC como mecanismo de suprimento das lacunas da formação inicial, considerada insuficiente na preparação para o exercício da docência. Os professores preferem os tipos de FC onde possam refletir sobre os problemas da prática, com ênfase na atualização de conhecimentos, elaboração de material pedagógico, e na busca por respostas para os problemas que vivenciam em sala de aula. Com relação à identificação com a docência, os aspectos considerados pelos docentes como definidores de sua identidade profissional vinculam a aprendizagem da profissão à prática na sala de aula, às experiências como estudantes, às histórias de vida, à pertença ao grupo de docentes, ao estudo, à relação de amor e dedicação aos alunos, e ao ensino como uma missão ligada ao dom e a vocação. Basicamente as motivações dos docentes para exercerem a profissão estão centradas na aprendizagem dos alunos. Os maiores desafios que os docentes encontram na profissão se referem à participação das famílias na escola; à falta de assessoramento em sala de aula; ao excesso de trabalho, e à dificuldade em encontrar estratégias que contribuam no desenvolvimento dos alunos com dificuldades de aprendizagem. Conforme observado nos encontros formativos, as ações formativas se dão, no geral, de forma pontual, sem a participação efetiva dos professores em sua estruturação. Diante do quadro exposto, parece-nos razoável afirmar que as ações de formação continuada de professores em serviço, desenvolvidas em algumas escolas pesquisadas não possibilitam a constituição de identidades profissionais autônomas e reflexivas e, sim, a constituição de identidades que seguem o modelo técnico. Por sua vez, algumas escolas sinalizam a constituição de uma maior identificação com a docência, na medida em que promovem espaços de interlocução em torno dos desafios e interesses dos professores. Diante dessas constatações entendemos que é urgente a revisão das propostas de formação nas escolas pesquisadas, a fim de que proporcionem espaços propulsores da atitude investigadora e da prática crítico-reflexiva, fundamentais ao desenvolvimento profissional, por meio de ações formativas elaboradas coletivamente, dando condições dos professores assumirem uma identidade profissional reflexiva e autônoma.