Extrativismo do butiá e do pinhão na região dos Campos de Cima da Serra (RS): a valorização da sociobiodiversidade por assentados e comunidades tradicionais
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo compreender as concepções sobre o processo
de apropriação do butiá (Butia eriospatha) e do pinhão, semente da Araucária (Araucaria
angustifolia), presentes na Floresta de Araucárias - na região dos Campos de Cima da Serra
do Rio Grande do Sul - mediante o processo de extrativismo adotado por assentados de
reforma agrária e comunidade tradicional de extrativistas. Os sujeitos da pesquisa foram um
grupo de seis famílias assentadas no Assentamento Nova Esmeralda, no município de Pinhal
da Serra (RS), que vem desde o ano de 2010 associando o extrativismo do butiá às demais
atividades produtivas de sua unidade de produção e, um grupo de onze famílias extrativistas
de pinhão do município de Muitos Capões (RS), que historicamente desenvolvem essa
atividade. O método empregado foi a pesquisa qualitativa, que busca compreender as
condições sociais, culturais, econômicas e ecológicas vivenciadas pelo público estudado e a
partir disso explicar as concepções sobre os usos e finalidades destas espécies nativas. A
pesquisa contou com uma revisão bibliográfica e documental; entrevistas aos dois públicos e
também a informantes-chave e técnicos de organizações de assessoria. Para a análise dos
dados, buscou-se referência em Oliveira (2012), onde aponta como método a definição de
categorias teóricas, categorias empíricas e unidades de análise. A revisão bibliográfica
centrou-se no processo de metabolismo social e metabolismo com a natureza, do qual focouse
no processo de apropriação natureza. Também buscou-se referências sobre a cultura
ecológica e a racionalidade ambiental para compreender os processos que ocorrem nas
comunidades tradicionais e nos camponeses. E também a conservação da biodiversidade
estimulada pelo seu uso. Conclui-se o estudo apontando que a dimensão econômica é o
aspecto de maior motivação nos dois públicos estudados, por mais que o uso na alimentação
esteja bastante presente, a concepção comum entre os dois públicos é de conservação da
araucária e do butiá para continuar gerando renda. A dimensão cultural também se fez
presente especialmente nos extrativistas de pinhão que possuem um conhecimento tradicional
de longa data. A dimensão da organização social está mais evidente nos assentados. A
dimensão da conservação fica mais evidente na medida em os recursos da natureza passam a
ter maior valor econômico. Por fim, menciona-se que na atualidade se faz necessário um
metabolismo sustentável com a natureza, de modo que se redesenhe sistemas de produção
com base na Agroecologia e que incorporem as espécies da sociobiodiversidade.