Uma aproximação das concepções de lógica de Kant e Frege
Resumo
Nesta dissertação, orientados pela busca da relação entre a lógica matemática e a lógica tradicional, nos dirigimos às caracterizações de lógica oferecidas por Kant e Frege. Num primeiro momento consideramos e precisamos diversos modos de entender a tese de que a lógica pode ser distinguida das outras ciências por abstrair da matéria ou conteúdo do conhecimento e tratar apenas da forma. Duas destas noções mostraram-se indispensáveis para explicitar as relações entre as concepções de lógica dos dois autores; a saber, generalidade i.é. vigência normativa sobre todos os domínios do pensamento e formalidade i.é. completa abstração do conteúdo semântico. Em um segundo momento, evidenciamos o papel fundamental destas duas noções, na caracterização kantiana de lógica. Kant, em consonância com seus contemporâneos, começa caracterizando a lógica pela generalidade, mas, quando chega às teses fundamentais do seu idealismo transcendental, inova completamente ao argumentar também pela sua formalidade. Em um terceiro momento, evidenciamos a marcante influência kantiana na obra de Frege, que se faz presente de modo especial na concepção de lógica. Nos primeiros escritos, Frege parece adotar a mesma caracterização que Kant, mas, com o amadurecimento de sua obra, acaba por dar-se conta que suas inovações técnicas rejeitam a formalidade da lógica. A caracterização pela generalidade, ao contrário, é uma constante ao longo de todo o corpus fregeano, embora seja também reformulada com o acirramento de seu antipsicologismo. O principal resultado desta dissertação é a explicitação do núcleo comum entre as concepções de lógica dos dois autores, e com ele, do fundamento da divergência acerca do status da aritmética. Somente porque lógica significa o mesmo para ambos, o malogrado projeto logicista poderia ter provado que Kant estava errado acerca da aritmética.