Efeito do trabalho no desempenho de alunos no ENADE
Resumo
Atualmente, há um aumento do número de estudantes ingressantes no ensino superior. Também ocorreu aumento na destinação de recursos para assistência estudantil e no número de bolsas de estudo em universidades privadas. Porém, muitos estudantes ainda precisam trabalhar durante o ensino superior. Existem fatores que condicionam o estudante a conciliar trabalho e estudo, como condição socioeconômica, independência financeira e desenvolvimento profissional. O envolvimento com o trabalho pode acarretar em menor desempenho nos estudos. Este pode ser aferido por meio de médias nas disciplinas ou em exames de avaliação, como o ENEM e o ENADE. Esta pesquisa buscou verificar o efeito do trabalho no desempenho de estudantes no ENADE. Para isso, foram obtidos dados do ENADE 2013, aplicado a 196.855 estudantes de 17 cursos superiores. A variável dependente utilizada foi a média geral na prova. As variáveis independentes consideradas foram a situação de trabalho do estudante, a categoria administrativa da instituição e o curso superior. Excluíram-se alguns participantes que apresentaram problemas nas provas, resultando em 155.599 estudantes. Constatou-se que os dados não possuíam distribuição normal, sendo submetidos ao teste de Kruskal-Wallis e comparação de médias de Nemenyi, com uso do software estatístico R. Os resultados demonstraram que o desempenho no ENADE foi maior para estudantes que não trabalhavam, e não diferiu entre estudantes que trabalhavam até 20 horas ou acima de 20 horas. Considerando apenas instituições públicas, os estudantes que não trabalhavam obtiveram melhores médias no ENADE quando comparados com estudantes que trabalhavam. Em instituições privadas, o desempenho no ENADE também foi maior para estudantes que não trabalhavam, e não diferiu entre estudantes que trabalhavam. Em relação ao desempenho dos estudantes por cursos, há diferenças significativas entre cursos, exceto quando comparados o desempenho dos estudantes de Fonoaudiologia com Agronomia, Zootecnia com Odontologia, Zootecnia com Medicina, Biomedicina com Medicina, Biomedicina com Fisioterapia, Biomedicina com Zootecnia, Tecnologia em Gestão Hospitalar com Serviço Social, Tecnologia em Gestão Ambiental com Serviço Social, Tecnologia em Gestão Ambiental com Tecnologia em Gestão Hospitalar e Educação Física com Tecnologia em Agronegócios. Na análise de cada curso, apenas estudantes de Tecnologia em Radiologia não apresentaram diferenças significativas no desempenho no ENADE. Na maioria dos cursos (Medicina Veterinária, Agronomia, Odontologia, Medicina, Farmácia, Nutrição, Biomedicina, Enfermagem, Fisioterapia, Serviço Social e Educação Física), predominou o maior desempenho dos estudantes que não trabalhavam. Em outros cursos, o desempenho dos estudantes que não trabalhavam não diferiu do desempenho dos estudantes que trabalhavam até 20 horas (Zootecnia e Fonoaudiologia), e que trabalhavam acima de 20 horas (Tecnologia em Agronegócios e Tecnologia em Gestão Ambiental). No curso de Tecnologia em Gestão Hospitalar, o desempenho no ENADE foi maior para estudantes que trabalhavam acima de 20 horas. Conclui-se que o desempenho do estudante no ENADE é afetado negativamente pelo trabalho. Em algumas situações, o fato do estudante trabalhar não interfere no desempenho, porém as causas devem ser estudadas. Sugere-se maior atenção aos estudantes que realizarão o ENADE, principalmente àqueles que conciliam trabalho e estudo.