Tendo a cruz por bandeira: movimentos religiosos contra-hegemônicos na América Latina inspirando as histórias da formação e a prática de agentes religiosos em movimentos populares no Rio Grande do Sul (1970-1980)
Resumo
Esta dissertação tem por objetivo compreender os processos de formação e atuação de
mediadores religiosos que se engajaram em Movimentos Sociais no fim da década de 1970 e
início da década de 1980, no Estado do Rio Grande do Sul RS/Brasil. Tendo em vista que, em
plena ditadura militar, na ausência de sindicatos e de partidos políticos atuantes que expressassem
os interesses das classes populares, reprimidos ou cooptados pelo regime ditatorial, outras
organizações da sociedade civil ocuparam esse espaço, algumas dessas organizações tomaram
parte ativa nos conflitos e colocaram-se a serviço das classes populares. No entanto, para que os
setores progressistas pudessem atuar na Igreja Católica, essa instituição teve de passar por
transformações internas e estar aberta ao mundo, pois só assim pôde sensibilizar-se com os
problemas da sociedade. Contudo, uma religião necessita manter um sentido de continuidade
mesmo em épocas de renovação interna e transformação social e, assim sendo, abordou-se as
transformações ocorridas na Igreja Católica durante a segunda metade do século XX,
principalmente com o advento da Teologia da Libertação. No que se refere à formação, analisouse
o papel do Centro de Orientação Missionária (COM) no que diz respeito às suas relações com
a Igreja Institucional e com a formação teórica de lideranças e a organização de movimentos
populares. Buscou-se compreender o papel da formação inserida em comunidades populares,
estudando o caso do pioneirismo dos franciscanos na Lomba do Pinheiro, na periferia de Porto
Alegre, examino a participação de religiosos na gênese do Movimento Sem Terra no Rio Grande
do Sul como período prático da formação que influenciou na participação de mediadores
religiosos em Movimentos Sociais, partindo do pressuposto de que esses três modos de formação
complementam-se: a formação teórica, a inserida e prática. Para o desenvolvimento do trabalho,
fez-se uso de entrevistas com religiosos, agentes de pastoral e outros mediadores que tiveram
participação direta no surgimento e organização de movimentos populares no Rio Grande do Sul.