A definição atribuída à designação “sintagma”: deslocamento e efeitos de sentido
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo propor uma reflexão sobre a problemática da definição, cuja aparência semanticamente estável produz um efeito de evidência do saber, dissimulando o gesto interpretativo do sujeito que define. Nossa proposta é desenvolver um estudo sobre o que faz com que a definição não seja apenas mais uma formulação inscrita em uma rede parafrástica, mas sim uma formulação que historiciza, que passa a fazer parte do interdiscurso, ao mesmo tempo em que individualiza o sujeito, colocando-o como responsável por aquilo que diz e escreve. Para tanto, mobilizaremos a noção de função-autor (ORLANDI, 2007 [1996]), procurando investigar o que torna a definição uma formulação singular. Além disso, questionaremos o efeito de evidência que constitui o ato de definir, uma vez que a nossa reflexão sobre a linguagem aceita o desconforto de não nos ajeitarmos nas evidências e no lugar do já-dito. Tomaremos como objeto de análise a definição atribuída à designação sintagma , a qual é associada a Saussure como aquele que primeiro atribuiu a essa designação um caráter conceitual ao introduzi-la nos estudos lingüísticos. Tal designação, a partir da segunda metade do século XX, passou a fazer parte também do domínio de saber do gramático no Brasil, época em que o dizer do gramático passou a ser determinado, sobretudo, pela Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB). Considerando o deslocamento da designação sintagma entre diferentes domínios de saber, propomos investigar como se articula o saber do linguista e do gramático a partir da definição atribuída à designação sintagma . Dessa forma, propomos considerar inicialmente a definição de sintagma na formulação do gramático e como, a partir daí, constitui-se uma rede de reformulações parafrásticas que remontam a uma formulação-origem que está inscrita em outro domínio de saber, produzindo efeitos de sentido diferentes sob a aparência do mesmo. Nosso trabalho está filiado à História das Ideias Linguísticas articulada à Análise de Discurso de linha francesa. Trata-se, pois, de refletir como certos saberes se constituem e, ao permanecerem, são reformulados, ganhando contornos específicos (GUIMARÃES, 2004).