Vírus do ectima contagioso (ORFV): avaliação de vacina produzida em cultivo celular, investigação de persistência viral e filogenia de amostras brasileiras
Resumo
O ectima contagioso, também conhecido como Orf, é uma enfermidade contagiosa que afeta
principalmente ovinos e caprinos e que está mundialmente distribuída. O agente da
enfermidade, vírus do Orf (ORFV), é o protótipo do gênero Parapoxvirus (PPV), família
Poxviridae. As vacinas atuais contra a doença apresentam eficácia questionável e são
produzidas por métodos cruentos. Da mesma forma, a epidemiologia da infecção,
especialmente os mecanismos utilizados pelo vírus para se perpetuar nos rebanhos e as suas
possíveis variações genéticas e antigênicas são pouco conhecidas. Assim, os objetivos do
presente trabalho foram: a. Desenvolvimento e teste de eficácia de uma vacina para o ORFV
produzida em cultivo celular, b. Investigação da persistência viral em ovinos infectados
experimentalmente, c. Análise filogenética de amostras brasileiras. O capítulo 1 relata a
produção e teste de eficácia de uma vacina produzida em cultivo celular. Para isto, a cepa IA-
82 do ORFV foi submetida a 21 passagens em cultivo de células BHK-21 e usada para
vacinar ovinos jovens (n=30), por escarificação cutânea na face interna da coxa. A vacinação
produziu pústulas e crostas em 16 dos 30 ovinos vacinados, indicando imunização adequada
em 53% dos animais. Noventa dias após a vacinação, ovinos vacinados (n=16) e controles
(n=16) foram inoculados com uma cepa virulenta do ORFV (106,9DICC50/mL) após
escarificação na comissura labial. Todos os animais desenvolveram lesões típicas de ectima,
incluindo hiperemia, vesículas, pústulas e crostas. No entanto, os animais vacinados
desenvolveram lesões mais leves e passageiras do que os controles, e os escores clínicos
foram estatisticamente diferentes (p<0,05) entre os dias 10 e 22 pós-desafio. Além disso, o
tempo de duração da doença foi significativamente inferior (p<0,05) nos animais vacinados.
Os animais vacinados também excretaram menor quantidade de vírus (p<0,05) e por um
período significativamente mais curto do que os controles (13,4 dias versus 22,6 dias,
p<0,001). Esses resultados demonstram a proteção parcial conferida pela vacina experimental
e, dependendo da melhoria dos índices de imunização e proteção, são promissores no sentido
da utilização de vacinas contra o ORFV produzidas em cultivo celular. O capítulo 2 relata a
investigação da persistência do ORFV em ovinos infectados experimentalmente. Para isto,
ovinos inoculados com a cepa IA-82 foram submetidos a pesquisa de vírus e de DNA nas
lesões a diferentes intervalos após a inoculação. A viabilidade do vírus também foi
investigada em crostas de animais infectados mantidas à temperatura ambiente. Durante a
infecção aguda, o vírus produziu lesões típicas de ectima em todos os animais inoculados
(n=10), com duração de aproximadamente 22 dias. O vírus foi detectado continuamente nas
lesões de todos os animais até o dia 24 pós inoculação (pi); quatro animais excretaram vírus
até o dia 44 pi e um deles ainda excretava vírus no dia 51 pi. O vírus foi excretado em títulos
de até 105,5 DICC50/ml, com picos de excreção viral entre os dias 10 e 12 pi. O DNA viral foi
detectado por PCR em biópsias coletadas de todos os animais no dia 37 pi, e em um animal o
DNA viral foi detectado até o dia 79 pi. O vírus foi recuperado, por isolamento viral, nas
crostas mantidas a temperatura ambiente por até seis meses após a coleta. Esses resultados
demonstram que o ORFV pode persistir e ser excretado por longo período em animais
infectados, mesmo após a resolução clínica das lesões. O capítulo 3 relata a análise
filogenética de nove amostras brasileiras de ORFV obtidas de ovinos e caprinos entre 2008 e
2011, além de três cepas vacinais. A sequência parcial do gene B2L, que codifica para uma
proteína de envelope altamente imunogência, foi amplificada por PCR e o fragmento gerado
(594 bp) foi submetido ao sequenciamento. A análise das sequências revelou que as amostras
brasileiras possuem um alto grau de similaridade, quando comparados entre si e com as cepas
vacinais. As amostras brasileiras apresentaram um grau de similaridade de nucleotídeos de 97,
7 a 100% e de aminoácidos de 96,1 a 100%. Quando comparadas com as cepas vacinais, as
amostras analisadas apresentaram um grau de similaridade de nucleotídeos de 98,7 a 100% e
de aminoácidos de 97,7 a 100%. A análise filogenética baseada na sequência deduzida de
aminoácidos mostrou que as amostras de ovinos se agruparam junto com as cepas vacinais, e
as amostras de caprinos se agruparam separadamente. Conjuntamente, esses resultados
contribuem para o conhecimento acerca da biologia e epidemiologia do ORFV, e são
promissores no sentido do uso de vacinas produzidas em cultivo celular.