“Rodas de conversa” sobre a (além da) campanha “Crack nem pensar”: a saga do “Super-homem moderno” em tempos de crack
Abstract
Essa dissertação de mestrado nasce de nossas inquietações desde que a Epidemia do Crack
passou a ser um fenômeno conhecido socialmente a partir de diversas matérias, reportagens e
campanhas veiculadas pelos meios de comunicação de massa. Tomando o conceito de ideologia como
referência, o objetivo geral foi o de analisar como os usuários de crack, inseridos em um Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, percebem as formas simbólicas veiculadas na campanha
televisiva Crack nem pensar . Os objetivos específicos foram: conhecer o que os usuários sentem e
pensam ao assistir a campanha televisiva Crack nem pensar ; analisar como os usuários interpretam
as construções sobre eles mesmos presentes na campanha; analisar como eles percebem as construções
sobre a droga veiculadas na campanha; identificar e interpretar possíveis relações de dominação
(ideologia) presentes no discurso dos participantes em relação à campanha; e refletir, a partir da
experiência dos grupos, sobre a possibilidade de criar novas formas de abordar o tema. Através dos
encontros dialógicos, propomos a construção de um espaço de comunicação, entendido como o direito
de dizer sua palavra, expressar sua opinião. Pautados na perspectiva teórica da Psicologia Social
Crítica e nos pressupostos metodológicos da Hermenêutica de Profundidade, utilizamos como método
a realização de observações participantes, escrita de um diário de campo e a constituição de Rodas de
Conversa . Para a realização das Rodas de Conversa , foi utilizada a técnica de Grupos Focais.
Foram realizados três grupos, totalizando 16 interlocutores. Os dados foram submetidos à análise,
formando três eixos teóricos, e concebendo a cultura moderna ocidental como eixo norteador: os
projetos modernos e a produção de refugo humano ; a televisão como agorá das sociedades
modernas; e o mito das drogas. Inúmeras foram as estratégias ideológicas identificadas nessa pesquisa
(e.g. naturalização, eternalização, diferenciação, universalização, dentre outras). Ao colocar em
funcionamento modos de expressão de subjetividade , o grupo evidenciou seu caráter não apenas
terapêutico, mas político. Além disso, as Rodas de Conversa salientaram a postura crítica dos
interlocutores em relação à campanha debatida e, apesar de concordarem com a importância da
veiculação do tema na mídia, acreditam que as propagandas fugiram da realidade . Para eles, as
propagandas podem colaborar no aumento do preconceito da população em relação aos usuários de
drogas. Dessa forma, as Rodas de Conversa foram além do debate sobre a campanha Crack nem
pensar , tendo a noção de subjetividade sido fundamental nas análises.