Amamentação de crianças com idade superior a dois anos: experiências maternas
Resumo
O objetivo deste estudo foi conhecer as experiências maternas em relação à prática da
amamentação para mulheres que amamentaram seus filhos por dois anos ou mais.
Participaram da pesquisa quatro mães adultas com idades entre 20 e 50 anos. Os instrumentos
utilizados para a coleta de informações foram uma ficha de triagem, para identificar os
critérios de inclusão dos participantes, e uma entrevista semiestruturada, para investigar as
questões do estudo. Foi utilizado um delineamento de estudo de caso coletivo, dando-se
atenção às particularidades e semelhanças entre os casos, e uma análise qualitativa. Os
resultados foram organizados em três estudos: um estudo teórico (Estudo 1) que se refere a
busca de estudos, através de uma revisão narrativa de literatura, que discutam as experiências
maternas em relação à amamentação e desmame; o primeiro estudo empírico (Estudo 2) que
refere-se à investigação sobre como as mães experienciam a prática da amamentação por dois
anos ou mais, quais os modelos implicados em tal prática e o lugar ocupado pelo pai nesse
contexto; e o segundo estudo empírico (Estudo 3) que investiga quais os aspectos
relacionados ao processo de desmame de crianças amamentadas até os dois anos ou mais,
dando-se ênfase em três aspectos: aos sentimentos de ambivalência relatados pelas mães em
relação ao desmame, aos motivos que as levaram a desmamar os filhos e a vigilância e
coerção social em torno dessa prática. O conjunto dos principais resultados encontrados nos
três estudos indica a importância de repensar questões de saúde e assistência à mulher e a
criança que possam oferecer um suporte adequado para que as demandas socioculturais,
históricas e subjetivas possam ser supridas. Ainda é preciso compreender que não se trata
apenas de incentivar a prática da amamentação discursando sobre seus aspectos nutricionais e
biológicos, mas sim entender a situação de vida de cada mulher. Entende-se que mudanças em
termos socioculturais e históricos são complexas, no entanto, a oferta de suporte emocional
adequado é possível. É preciso reconhecer as diferentes práticas das mulheres em relação à
amamentação são marcadas por uma grande pressão social. Esta é fruto do controle da
sociedade exercido sobre as mulheres, por exemplo, através das campanhas de incentivo à
amamentação e da vigilância sobre o ato de amamentar e do desmame, das questões de gênero
e do pouco conhecimento ou desconhecimento das experiências e sentimentos das mães por
parte das pessoas que estão junto a elas e com essas trabalham. Portanto, ressalta-se ainda a
importância de conhecer a rede de apoio da mulher que amamenta, uma vez que através dessa
estrutura melhorada pode-se oferecer um atendimento em saúde ampliado e sob uma
perspectiva biopsicossocial.