Para além do centro histórico: valores e sentidos do patrimônio cultural edificado de Santa Maria/RS
Abstract
A apropriação do Patrimônio Cultural por uma comunidade é pressuposto para que ele exista como
elemento que ratifica memórias e histórias e, especialmente, faça sentido para determinado grupo
social. Para transcender a condição de materialidade e passe a ter significações que não acabam em si
mesma, no caso do patrimônio de caráter material, a edificação deve ser detentora de valores
culturalmente atribuídos que a façam identificável como patrimônio. A partir desta colocação,
subsidia-se a problemática do presente estudo: como a comunidade percebe e atribui valor ao
patrimônio cultural material fora da grande concentração do centro histórico da cidade de Santa
Maria/RS? Esta zona engloba expressivo volume de edificações com interesse patrimonial da cidade
como, por exemplo, a Mancha Ferroviária, a Catedral Metropolitana e grande parte das do acervo Art
Déco santa-mariense. O espaço, já imaginado e institucionalizado como região que concentra
exemplares do patrimônio cultural material, foi palco do crescimento da cidade em suas diferentes
fases. No entanto, a cidade abriga outras edificações com potencial valor patrimonial que transcendem
esta linha imaginada e definida legalmente como espaço de proteção patrimonial, o que pressupõe
novos lugares de memória na cidade. Com base na problematização dos valores atribuídos a
monumentos por Riegl (2013) e retomados por Meira (2008), o presente estudo busca identificar as
formas de atribuição de sentido ao Patrimônio Cultural Material pela comunidade de Santa Maria/RS
em regiões alheias ao centro histórico. A partir de uma amostra representativa destes exemplares,
busca-se identificar as formas de apropriação do patrimônio e destacar possíveis estratégias para a
valorização destas memórias. Como aporte para discutir estas problematizações, o presente estudo
sustenta-se metodologicamente em pesquisa bibliográfica e documental, necessária para subsidiar a
elaboração do instrumento de abordagem da comunidade que, neste caso, é o questionário. Neste
recorte, formado por dez exemplares, há tanto edificações isoladas e de caráter residencial como
conjuntos arquitetônicos e exemplares de importância urbanística. Todos compartilham entre si
potencial valor patrimonial e localização periférica em relação ao centro histórico . Cada exemplar
foi analisado a partir das discussões propostas por Riegl (2013) e, como conjunto, proporcionam uma
discussão que alcança todos os valores debatidos. Os resultados permitem concluir que a região central
é ratificada no imaginário coletivo como espaço que concentra o acervo patrimonial local. A
atribuição de valores àquelas edificações externas ao centro é discreta, com valorações históricas e de
antiguidade, sem a percepção da potencialidade da edificação patrimonial para outros usos, por
exemplo. Conclui-se, por fim, pela urgência de ações de valorização deste patrimônio cultural.