Estudo das alterações comportamentais e bioquímicas induzidas pela exposição ao Hg (II) sobre o sistema antioxidante e vias de sinalização celular em Drosophila melanogaster
Resumo
O Mercúrio (Hg) é em um metal pesado de relevância toxicológica cuja contaminação
ambiental decorre principalmente de atividades antropogênicas. Dentre os mecanismos
moleculares envolvidos na toxicidade do Hg estão um aumento na produção de espécies
reativas de oxigênio, diminuição na atividade de enzimas antioxidantes e modulação da
fosforilação de proteínas que participam de vias de transdução de sinal celular, entre estas
as Proteínas Cinases Ativadas por Mitógenos (MAPKs). Estudos apontam Drosophila
melanogaster como um organismo que apresenta um considerável potencial para atuar
como um bioindicador de contaminantes ambientais, apresentando alterações bioquímicas e
comportamentais similares a efeitos observados em mamíferos. Deste modo, nossos
resultados demonstraram que o HgCl2, quando incorporado na dieta junto com sacarose em
D. melanogaster, causa significativa diminuição da viabilidade das mesmas a partir de 24h
de modo dependente de concentração utilizada do composto. Além disso, após 48h de
exposição ao Hg(II) as moscas tratadas com concentrações a partir de 100μM obtiveram
prejuízos no desempenho locomotor, diminuição na atividade das enzimas:
Acetilcolinesterase (Ache), Glutationa Peroxidase (GPx) e Superóxido Dismutase (SOD),
não alterando a atividade da Catalase (CAT). Na análise dos genes de D. melanogaster,
através do método de Real time-PCR, observou-se que os níveis NF-E2-relacionados fator 2 (Nrf2) não foram alterados em comparação ao grupo controle,
sendo que os níveis de HSP83 foram aumentados em 10 vezes. Além disso, a partir de 6h
de tratamento as moscas demonstraram indução na peroxidação lipídica e estresse oxidativo
efeito este que persistiu até as 48h de tratamento. Na medição dos níveis de Hg, expressa
em μg de Hg/g de tecido, observou-se que as moscas tratadas por 48h com HgCl2
apresentaram 100 vezes maiores níveis de Hg em comparação ao grupo controle. Com
relação à análise da modulação de MAPKs pelo tratamento com HgCl2 observou-se
aumentada fosforilação de JNK e ERK, sem alterar a fosforilação de p38MAPK, bem como o
conteúdo total destas proteínas. HgCl2 levou a uma elevação na clivagem da proteína
PARP, indicativo da indução de morte celular do tipo apoptótica. Os dados obtidos neste
trabalho ressaltam a toxicidade do Hg(II) e estendem o conhecimento sobre seus
mecanismos de ação para um modelo animal de invertebrado, além disso, o presente estudo
aponta o sistema antioxidante e vias de transdução de sinal celular como mecanismos
comuns envolvidos na toxicidade deste metal em vertebrados e invertebrados..