Designações de sujeitos na obra vocabulario gaúcho de Roque Callage
Resumo
O presente trabalho está inscrito na História das Ideias Linguísticas (HIL), área que estuda, sobretudo, a produção de instrumentos linguísticos que se faz no Brasil desde o século XVI. Instrumentos linguísticos são, segundo Auroux (1992), os principais pilares de nosso saber metalinguístico, resultantes da Revolução Tecnológica da Gramatização. Além de gramáticas e dicionários, vocabulários e glossários também são considerados instrumentos linguísticos. Nosso objeto de pesquisa trata-se da obra Vocabulario Gaúcho, produzida no ano de 1928 pelo autor santa-mariense Roque Callage, que coletou verbetes típicos falados pela sociedade gaúcha. Entendemos que, dentre outros fatores, é pela língua que o gaúcho constrói sua identidade regional. Nosso corpus está estruturado da seguinte maneira: deste vocabulário, recortamos 132 verbetes, tendo como critério de seleção verbetes que designam sujeitos. Logo após, os separamos nas seguintes categorias: 1. Os que designam classe social. 2. Os que designam uma questão geográfica e de pertença, que indica de onde o sujeito vem. 3. Os que designam a raça/etnia do sujeito. 4. Os que indicam a ocupação e/ou profissão do sujeito. 5. Os que apresentam características físicas dos sujeitos. 6. Os que designam mulheres. Depois de apresentarmos os sentidos apresentados por estes verbetes, selecionamos nove: bahiano, bruáca, china, chirú, chirúa, estancieiro, gasguita, gaúcho e morocha, mobilizando os conceitos de designação, descrição e definição para a análise. A escolha destes nove verbetes se deve ao fato de que eles nos revelam as condições sócio-históricas da época em que Vocabulario Gaúcho foi produzido. A maioria dos verbetes apresentados na obra de Callage está no masculino e os poucos que estão no feminino apresentam sentidos pejorativos, como é o caso de bruáca, china, chirúa e gasguita. Esta análise nos revela um Rio Grande do Sul dominado por homens, onde o gaúcho é bastante valorizado; suas qualidades como virilidade e habilidade com o cavalo são enaltecidas, enquanto as mulheres, sobretudo as mulheres de interior, conforme nos diz Hilaire (1997), permanecem restritas ao âmbito doméstico. Assim, confirmamos os pressupostos teóricos trazidos por Nunes (2006b), de que dicionários são objetos discursivos. Apesar de nosso objeto de pesquisa ser um vocabulário, ele apresenta funções semelhantes às dos dicionários, de maneira que as designações apresentadas pelos verbetes analisados estão revestidas de história, sobretudo da História do Rio Grande do Sul, portanto trazem um discurso sobre a história do estado.
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