A produção de sentidos sobre o “brasiguayo” na mídia paraguaia: uma análise das matérias e dos comentários do jornal última hora
Resumo
Esta pesquisa investiga a produção de sentidos sobre o “brasiguayo” no jornalismo paraguaio. O neologismo brasiguaio (em Português) denomina os migrantes brasileiros que, a partir da década de 1950, deslocaram-se para o Paraguai incentivados por políticas governamentais que visavam atrair agricultores para a modernização da agricultura. A questão-problema desta pesquisa indaga: quais são as produções de sentidos do/sobre os “brasiguayos” nas matérias e nos comentários do jornal Última Hora? O objetivo geral propõe analisar quais são os sentidos produzidos ao tecer a construção sobre o “brasiguayo” nas matérias e nos comentários do jornal Última Hora, com base nas tomadas de posição do sujeito discursivo. São objetivos específicos desta pesquisa: i) verificar quais são as Formações Discursivas (FDs) estabelecidas a partir dos saberes determinados pela forma-sujeito); ii) compreender as produções de sentidos sobre o “brasiguayo” nas matérias e nos comentários; iii) analisar os lugares discursivos que os sujeitos ocupam na defesa da identidade nacional. A pesquisa está ancorada na Análise do Discurso (AD), uma área interdisciplinar, cujos estudos estão focados nas produções discursivas e toma como base a abordagem desenvolvida por Michel Pêcheux, estudada no contexto brasileiro por Eni Orlandi. A partir da AD, tratamos das noções de interdiscursividade, intersubjetividade, condições de produção do discurso e formações discursivas para compreender e analisar a produção de sentidos a partir das matérias e dos comentários do jornal Última Hora do Paraguai. Entendemos que o discurso é opaco e cheio de possibilidades de sentidos, reconhecendo que ele se encontra atrelado a sujeitos, ideologia e aspectos sócio-históricos, os quais condicionam o dizer. Nosso corpus está conformado por 278 Sequências Discursivas (SDs), apreendidas no período entre 01 de janeiro e 31 de dezembro de 2014, das quais foram identificadas cinco Formações Discursivas (FD). Na FD 1, constatamos que o discurso do sujeito jornalista e do sujeito leitor estão atravessados pelas memórias da guerra da Tríplice Aliança, das relações bilaterais entre o Paraguai e o Brasil e atualiza sentimentos nacionalistas. Na FD 2, constatamos que o sujeito discursivo busca classificar a identidade “brasiguaya”, fugindo daquilo que é híbrido, ambivalente, como o próprio neologismo denota. Na FD 3, constrói-se o sentido do que seria visto como a solução ao combate daquilo que é visto como diferente, inclassificável, do Outro, do desviante e que precisam ser banidos da sociedade paraguaia. Na FD 4, o “brasiguayo” é visto como vítima das instituições paraguaias e dos movimentos sociais, trata-se de um sentido emergente, diferente, que questiona os saberes instituídos nas FD’s 1, 2 e 3. Assim também, a FD 5 constrói um sentido dicotômico entre o “brasiguayo” e o paraguaio, que coloca o primeiro como trabalhador e o segundo como preguiçoso, com pouca aptidão para o trabalho. Esse saber é produzido pelo sujeito “brasiguayo” e pelo sujeito paraguaio. Tais sentidos estão calcados em formações ideológicas que sobrepõem a identidade de matriz ocidental à identidade de matriz indígena, produzindo juízos de valor sobre a cultura paraguaia. Finalmente, constatamos que a língua Guarani, segunda língua oficial do Paraguai, é utilizada apenas pelos leitores do jornal, sendo negligenciada na produção das matérias analisadas. O uso da língua Guarani dá-se, principalmente, para a defesa da soberania nacional, assim como para a defesa de uma identidade homogênea.
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