O modelo expressivo-colaborativo: uma alternativa feminista à ética tradicional
Resumo
Este trabalho apresenta uma perspectiva alternativa à abordagem tradicional da ética, baseada
em uma ética feminista. O modelo expressivo-colaborativo, como concebido por Margaret
Urban Walker, se utiliza da discussão realizada anteriormente pelas autoras da chamada “ética
do cuidado”, e redireciona seus insights mais importantes para um contexto mais amplo, onde
não são levadas em conta apenas as experiências “femininas”, mas também aqueles de muitos
“outros”, em geral negligenciadas pelas teorias morais tradicionais. Para este novo modelo,
Walker enfatiza o papel da compreensão dos entendimentos morais em jogo na comunidade
moral, uma tarefa que pode ser cumprida se seguirmos os rastros da distribuição das
responsabilidades de tal comunidade. Ao fazer isto, temos que considerar que o que é
propagado como “conhecimento” exerce grande influência nos modos como os arranjos
morais e sociais são construídos e, portanto, em como as responsabilidades são distribuídas
entre os membros da comunidade. Walker então fornece uma epistemologia moral que vê a
produção e a disseminação do conhecimento como uma prática comunal, e conecta essa
abordagem naturalizada com as práticas morais e os arranjos sociais. A preocupação
prioritária desse modelo é, nesse sentido, metaética: ele quer ampliar a noção sobre para que
serve a ética, de maneira a incluir experiências morais de pessoas reais na vida real, ao mesmo
tempo em que fornece ferramentas para analisar arranjos morais e sociais, e a possibilidade de
crítica a algumas práticas que são abusivas ou opressiva, uma vez que fornece uma proposta
para a justificação moral. Então, ao mesmo tempo em que o trabalho de Walker é sobre novas
formas de se entender o significado e o trabalho da ética e de seus teóricos, ele é também
direcionado à própria comunidade, uma vez que proporciona valiosos insights sobre as
maneiras com que os entendimentos morais estão interligados com práticas sociais, políticas e
epistemológicas, bem como sobre o significado e propósito da própria comunidade moral.
Além dessas tarefas, Walker também indica caminhos para reparações após períodos de
graves injustiças, que incluem o direito de falar a verdade – e de ser ouvida – como
componentes fundamentais para uma agência moral completa, na qual as narrativas são
ferramentas poderosas, como exposto por vários estudos e relatórios de comissões da verdade
elaborados no despertar de períodos de graves violações de direitos humanos.
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