Padrões de uso de imagens no gênero artigo acadêmico experimental: uma análise multimodal comparativa entre linguística aplicada e agronomia
Resumo
O uso de diferentes recursos semióticos na comunicação de conhecimento científico vem
aumento ao longo das últimas décadas nos gêneros acadêmicos tradicionais, tal como o artigo
acadêmico experimental, bem como vem impulsionando a criação de novos gêneros
discursivos, tais como o resumo acadêmico gráfico (FLOREK, 2015) e o artigo audiovisual
(SILVA, 2015; SOUZA, 2015; MILANI, 2017). O estudo de padrões de uso de imagens, bem
como, a criação de materiais didáticos para a formação de discentes multiletrados na
academia, entretanto, representam aspectos de investigação pouco focalizados. Nesse
sentido, a presente dissertação objetiva analisar e comparar o uso de imagens em artigos
acadêmicos experimentais (AAE) publicados nas áreas de Linguística Aplicada (LA) e
Agronomia (AGR) em termos de: 1) frequência; 2) ocorrência (saliência e posição) no gênero;
3) natureza (por exemplo, tabelas, figuras, etc.); e 4) função retórica (por exemplo, “apresentar
dados dos participantes”, “apresentar um conceito”, etc.) nas seções em que ocorre. Para
responder esse objetivo, investigamos 20 AAE representativos de cada área a partir do
ferramental teórico-metodológico da Análise Crítica de Gênero (doravante ACG) que prevê
um olhar para a relação íntima entre texto e contexto. Os resultados indicaram que as duas
áreas apresentam padrões bastante distintos. Quanto à frequência, a AGR veiculou um
número maior de imagens por artigo (no mínimo quatro), enquanto que na LA a quantidade
de imagens oscilou severamente entre os AAE. Quanto à ocorrência, imagens na AGR
pareceram mais independentes da semiose verbal, já que, suas posições evidenciaram uma
leitura mais fracionada – nos extremos da página – ou mais comparativa/contrastiva – uma a
cima da outra. Na LA, por outro lado, a semiose verbal definiu a posição das imagens no corpo
do texto – imagem é apresentada quando mencionada. Quanto à natureza, a AGR alocou
todas as imagens e uma pluralidade de tipos de informação sob as nomeações ‘tabela’ e
‘figura’. A LA, por outro lado, apresentou seis variações de nomeações, bem como duas
possibilidades de não indicar a natureza da imagem. Quanto à função retórica, na AGR,
imagens são obrigatórias na seção de R/D, as quais são fundamentais para materializar o
argumento do estudo, majoritariamente de base quantitativa. Na LA, por sua vez, imagens
não são obrigatórias nas seções do AAE, embora a sua maioria tenha sido encontrada nos
R/D. Nesse seção, as imagens indicaram que os estudos privilegiam dados de base quanti e
qualitativa. Os diferentes padrões em cada área foram relacionados e explanados a partir das
tradições de uso de imagens particulares. Por um lado, a necessidade de usar imagens levou
a AGR a criar convenções (também em forma de documentos) que os participantes precisam
dar conta para participar dessa comunidade de prática. Por outro lado, a não convenção sobre
o uso de imagens na LA, aparentemente, esclareceu a pluralidade de formas de reportar o
conhecimento acadêmico em imagens. Esses resultados pretendem contribuir para o ensino
de leitura e produção de conhecimento em imagens no gênero AAE nas áreas em questão,
bem como levantar questionamentos sobre as práticas visuais adotadas, principalmente, na
LA.
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