Filogeografia de Aegla longirostri (crustacea, decapoda, anomura)
Resumo
Aegla é o gênero mais diversificado de caranguejos de água doce do sul da América do Sul. A família
Aeglidae, a qual pertence este gênero, possui origem marinha, com registro de dois gêneros fósseis,
encontrados em sedimentos marinhos na Nova Zelândia e México. Atualmente, são conhecidas 83
espécies de Aegla que ocorrem nas bacias hidrográficas do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e
Uruguai, sendo encontradas desde 320 metros de profundidade até 3.500 metros de altitude.
Aproximadamente 70% das espécies de Aegla encontram-se como ameaçadas de extinção,
principalmente pela rápida degradação do ambiente aquático combinada com a distribuição restrita da
maioria das espécies. Apesar do grande número de espécies descritas, seus caracteres morfológicos
diagnósticos exibem pouca variação resultando em dificuldades na identificação correta das espécies.
Além disso, a ocorrência de espécies crípticas em eglídeos já foi sugerida. Identificar espécies crípticas
é essencial para estimativas mais precisas da biodiversidade, para entender os processos que levam à
diversificação da vida e, também, para direcionamento correto de esforços de conservação, caso alguma
delas estiver ameaçada. Evidências moleculares e de morfometria geométrica sugerem que a espécie
nominal Aegla longirostri seja formada por um complexo de espécies, merecendo atenção especial em
relação à sua real distribuição, endemicidade e status de conservação. Uma ferramenta que provou ser
bem sucedida em revelar a biodiversidade críptica é a filogeografia. Utilizando diversas técnicas
moleculares e métodos analíticos, a filogeografia testa hipóteses sobre a relação causal entre fenômenos
geográficos, distribuições de espécies e os mecanismos que conduzem à especiação. A presente
dissertação tem como principal objetivo estimar as relações filogenéticas e os padrões filogeográficos
das populações de Aegla longirostri, e assim, testar a hipótese de que formam um complexo de espécies
crípticas. Se for um complexo de espécies, identificar quantas e quais populações compõem as potenciais
espécies crípticas. Além disso, objetiva-se analisar a estrutura genética das populações utilizando dois
marcadores moleculares mitocondriais (COI e 16S) e um marcador molecular nuclear (íntron do gene
ANT), afim de entender quais processos históricos podem ter influenciado na distribuição das linhagens
genéticas. Foram analisadas 17 populações de A. longirostri e os resultados confirmaram a hipótese
proposta, sendo que, métodos de delimitação de espécies indicaram que o complexo é formado por pelo
menos 14 possíveis espécies. Além disso, os resultados observados sugerem uma possível contribuição
da topografia da paisagem na diversificação desse complexo. Estudos futuros que busquem encontrar
novos caracteres diagnósticos ou novas técnicas para a delimitação das espécies de Aegla são
necessários. A real diversidade do gênero ainda é subestimada e é indispensável quantificar com
precisão a sua diversidade oculta, e assim, aplicar medidas mais efetivas de gestão e conservação da
biodiversidade.
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