Entre formação e adestramento: uma análise sociológica do habitus escolar militarizado em um colégio militar
Resumo
Baseado em obras centrais do pensamento de Pierre Bourdieu (1978, 2001 e 2007) empreendemos
um estudo sociológico que abordou um grupo de ex-alunos do Colégio Militar de Santa Maria -
CMSM, jovens que atualmente frequentam os cursos mais disputados na Universidade Federal de
Santa Maria - UFSM. Por meio da análise de conteúdos e de uma série de entrevistas, nossa
pesquisa buscou evidenciar os aspectos relativos à constituição de um Habitus Escolar Militarizado e
das disposições que o integram. Levamos em conta a relação entre os anseios familiares e a tarefa
que é atribuída à instituição escolar mencionada. Ponderamos acerca do contexto acadêmico no
Brasil, lugar onde a maior parte dos universitários é, em geral, bem preparada para competir pelas
vagas oferecidas, sobretudo aquelas dos cursos mais renomados (Medicina, Direito e Engenharias).
Assumimos então o fenômeno de reprodução social como fio condutor em nosso estudo.
Historicamente, procuramos posicionar o CMSM enquanto instituição escolar de prestígio, por conta
dos resultados de excelência que vem oferecendo às famílias de militares ao longo dos anos.
Segundo John Schulz (1994), é a partir de 1850 que podemos falar de uma “intervenção militar” no
Brasil. Durante o segundo reinado as forças militares brasileiras passam a sofrer uma série de
modificações, visando o seu aprimoramento material, institucional e humano. Os membros da classe
militar se mostraram preocupados então com o tipo de ensino que seus filhos poderiam ter e, diante
das possibilidades, os Colégios Militares emergiram enquanto espaços de formação distintos dos
demais, especialmente pelas formas analogicamente estruturadas a partir do mundo militar. A
disciplina e a hierarquia atuam como faróis que guiam as condutas individuais diariamente nesses
espaços sociais, incidindo sua força sob os corpos e ao mesmo tempo nas subjetividades dos
compartes. Concomitantemente, os alunos buscam alcançar uma série de bens simbólicos ofertados
em uma espécie de mercado de bens, que são cobiçados pelos mesmos mediante aproveitamento
escolar e disciplinar. No ensino superior, esses bens assumem novas formas, condicionadas pela
dinâmica do mercado de títulos. A partir disso, analisamos os conjuntos disposicionais acionados ao
longo das trajetórias intelectuais desses jovens, enquanto se deslocam do espaço escolar de
formação para o espaço acadêmico de formação.
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