Racionalidades e organizações do “terceiro setor”: uma análise da tensão entre racionalidade instrumental e substantiva a partir do discurso de trabalhadores do Instituto Terra
Abstract
Este trabalho toma como ponto de partida estudos que se debruçam à análise dos aspectos instrumentais e substantivos da racionalidade em organizações, mais especificamente, em organizações do “terceiro setor”. A observação da existência dessas manifestações acabaria por configurar espaços de tensão nesses ambientes, contribuindo para o desencadeamento de uma crise política e cultural que corresponderia aos aspectos relacionados ao propósito de existência dessas organizações, ao distanciamento do cunho ativista e estaria agravada pela perda do caráter político e isonômico em prol do predomínio do pensamento técnico-instrumental. Isso não apenas em função da coexistência dos aspectos utilitários e substantivos da racionalidade, mas sim, por certa relação de predominância daqueles em relação a estes. Este tema já foi explorado por outros autores que se pautaram no trabalho desenvolvido por Maurício Serva (1996), muitos dos quais apontaram as organizações do “terceiro setor” como lócus apropriado para a investigação da razão substantiva. Atualmente, tais pesquisas avançaram e encontram-se na segunda etapa, a qual consiste na investigação de aspectos específicos de gestão e relacionamento entre membros das organizações. Nesse contexto é que se situa este trabalho, o qual buscou analisar as manifestações dos aspectos da razão no ambiente organizacional a partir de três das onze categorias propostas pelo estudo de Serva (1996): Reflexão sobre a organização; Valores e objetivos organizacionais; Comunicação e relações interpessoais. Tendo em vista esse entendimento e por meio de um estudo realizado em uma Organização Não-Governamental Brasileira (Instituto Terra – Aimorés/MG), pretendeu-se compreender, a partir das práticas discursivas concernentes ao cotidiano laboral dos trabalhadores, a manifestação da racionalidade formal, imposta pela lógica do capital às organizações, e os objetivos isonômicos. Dessa forma, a problemática da pesquisa foi a seguinte: Como os elementos da racionalidade instrumental e substantiva estão investidos nas interrelações práticas e discursivas no âmbito da gestão e do cotidiano dos trabalhadores da Organização Não Governamental Instituto Terra? Os acenos interpretativos presentes nesta pesquisa partem da análise de Discurso da Escola Francesa (AD) onde utilizar-se-ão, sobretudo, as contribuições de acerca da Pecheaux (1988), Orlandi (2007) e Bakhtin (2008; 1999) acerca das Condições de Produção, Polifonia e a Interdiscursividade. Como principais resultados verificou-se que o contexto da organização em estudo configura um espaço dinâmico de tensão em função de diferentes mecanismos de pressão que favorecem aspectos instrumentais e substantivos da racionalidade. O ideário fundador é o elemento substantivo principal que permeia os discursos dos entrevistados e choca-se com a instrumentalidade do discurso de gestão eficiente sustentado e naturalizado nas falas.
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