Caracterização de biocarvões derivados de diferentes dejetos animais e resíduos das culturas e seu uso em cultivos de grãos
Resumo
Em um futuro próximo, o descarte de resíduos orgânicos pode ser um problema sério no Sul do Brasil, visto que
a região possui grande quantidade de fazendas com criação animal e produção vegetal. O preparo de biocarvão
pode ser uma estratégia para o descarte destes resíduos orgânicos de maneira adequada, obtendo benefícios para
os solos agrícolas. Assim, de acordo com a disponibilidade de materiais, propusemos um estudo com o intuito
de preparar biocarvões a partir de dejetos de suínos (SMB), de aves (PMB) e de bovinos (CMB) e da palha de
arroz (RSB), de soja (SSB) e de milho (CSB) e: I) realizar sua caracterização com base em suas características
químicas e de degradação e pela mineralização do carbono (C) quando incorporados ao solo; II) aumentar o pH
do solo e reduzir a concentração de Al no solo; e III) avaliar a influência da aplicação de biocarvões no trigo em
combinação com fertilizante nitrogenado ((NH4)2SO3) e seu efeito residual na cultura da soja sob sistema plantio
direto. Os biocarvões foram preparados a 450 °C em forno mufla com aumento da temperatura em 10 °C min-1
por 1 h. Todos os biocarvões apresentaram natureza alcalina, tendo pH>9,5. De modo geral, os teores de C e a
CTC foram maiores nos biocarvões de resíduos vegetais em relação aos biocarvões de dejetos animais. Por outro
lado, para os teores de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e micronutrientes), os biocarvões de dejetos animais
apresentaram maior concentração em relação aos provenientes de resíduos vegetais. A espectroscopia FTIR dos
biocarvões demonstrou a garantia da menor perda de nutrientes dos materiais durante o processo de pirólise sob
baixas temperaturas. A adição de biocarvão ao solo emitiu uma pequena quantidade de CO2, aumentando o
sequestro de C no solo. A adição de biocarvão no solo nas doses de 0, 5, 10 e 20 Mg ha-1 aumentou o pH do solo
e reduziu o Al trocável até certo ponto, o que confirma que a adição de biocarvões produzidos sob baixa
temperatura pode ser uma técnica apropriada para melhorar o pH do solo e reduzir os teores de Al trocáveis em
solos ácidos. A adição de 0, 10 e 20 Mg ha-1 de biocarvão em solo não perturbado, juntamente com o fertilizante
amoniacal, aumentou a altura das plantas e a massa seca do trigo até o florescimento, enquanto que a adição de
biocarvões sem N apresentou um leve aumento em relação ao controle (sem biocarvão e sem N). Os efeitos
residuais do biocarvão na soja também apresentaram comportamento semelhante ao do cultivo anterior (trigo),
onde a adição prévia de N aumentou a altura da planta de soja, bem como a produção de palha da cultura. Após
os experimentos, amostras de solo estratificadas (0-5, 5-10, 10-15 e 15-25 cm) foram analisadas para
determinação dos valores de pH e dos teores de NO3
-, NH4
+, P, K Ca, Mg e Al trocável. Foi possível verificar
que nos 5 cm superficiais do solo os teores de NO3
-, NH4
+ e P foram influenciados com as doses de biocarvão e
com a aplicação de N. Contudo, nas camadas mais profundas não houve diferenças significativas entre os
biocarvões, bem como para a aplicação de N. O pH e o Al trocável do solo também foram diretamente afetados
até 5 cm de profundidade, enquanto que com o aumento da profundidade o pH do solo diminui e o teor de Al
trocável aumenta. Assim, pode-se concluir que os biocarvões preparados a partir de resíduos vegetais sob baixa
temperatura são ricos em C, têm maior CTC, apresentam menor mineralização de C e promovem o aumento do
pH do solo e a diminuição de Al trocável quando incorporados ao solo sob condições de incubação, enquanto
que em condições de casa de vegetação todos os biocarvões foram comparativamente iguais entre si, mesmo em
doses diferentes. O aumento na dose de biocarvão aumentou a retenção de nutrientes no solo, enquanto não houve
diferença entre os biocarvões derivados de dejetos animais e de resíduos vegetais. Deste modo, o biocarvão pode
ser considerado uma alternativa adequada para o descarte de resíduos orgânicos, promovendo o sequestro de C e
o aumento da fertilidade do solo.
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