Papel do sistema purinérgico no lúpus eritematoso sistêmico: um estudo clínico e de revisão
Resumo
O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença inflamatória autoimune multifatorial causada por perturbações do sistema imune, caracterizada pela quebra da autotolerância imune, ativação de linfócitos T autorreativos e hiperatividade de linfócitos B. Os nucleotídeos e o nucleosídeo da adenina, como o ATP e a adenosina, são componentes chave nos processos inflamatório e imune, inclusive modulando as funções dos linfócitos. Seus níveis extracelulares são regulados por ectoenzimas como a E-NTPDase que hidrolisa ATP/ADP até AMP; a enzima E-5’-nucleotidase que degrada AMP até adenosina e a E-adenosina desaminase (E-ADA) que converte a adenosina a inosina. O objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade e expressão da E-NTPDase, a expressão da E-5’-nucleotidase e a atividade da E-ADA em linfócitos de pacientes com LES, bem como a atividade da ADA e a concentração de nucleotídeos e nucleosídeo no soro desses pacientes. Também tivemos como objetivo escrever um manuscrito de revisão sobre o tema após verificarmos lacunas na literatura em relação a sinalização purinérgica e LES. Foram selecionados 35 pacientes do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) com diagnóstico de LES, o qual foi baseado em critérios de classificação do Systemic Lupus International Collaborating Clinics (SLICC) e 30 controles, dos quais amostras de sangue foram coletadas para a realização das análises. Os resultados mostraram um aumento da concentração de ATP no soro, possivelmente resultado do processo inflamatório, e uma redução dos níveis de adenosina nos pacientes com LES. Foi observada uma maior atividade (31%) e expressão (37%) da E-NTPDase em linfócitos de pacientes com LES. A atividade da E-ADA também encontrou-se aumentada, aproximadamente 42% nos linfócitos desses pacientes. Já a atividade da ADA no soro foi reduzida em 57%, em relação a expressão da E-5’-nucleotidase em linfócitos dos pacientes com LES não foram observadas diferenças. Analisamos também a atividade da E-NTPDase e ADA em dois grupos de pacientes, remissão e exacerbação, as quais não tiveram alterações possivelmente devido à presença constante de autoanticorpos e persistentes anormalidades mesmo durante a fase de remissão. O aumento evidenciado na atividade e expressão da E-NTPDase poderia representar um mecanismo para auxiliar no controle da inflamação, já que esta enzima exerce efeitos anti-inflamatórios através da remoção de ATP. Porém a atividade da E-ADA aumentada, nos linfócitos, poderia favorecer a resposta Th1 e limitar os efeitos anti-inflamatórios da adenosina. Por outro lado, a ADA no soro revelou-se diminuída o que poderia ser devido a prejudicada função dos macrófagos, apresentada por estes pacientes, já que a maior parte da ADA no soro tem como fonte essas células. Diante disto, concluímos que a E-NTPDase, a ADA e a via purinérgica possuem importante função na modulação da resposta imune e inflamatória nos pacientes com LES.
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