Lógica e psicologia moral da santidade e do heroísmo
Abstract
A presente tese aborda o tema dos atos supererrogatórios, trazido à tona na filosofia por Urmson no artigo seminal intitulado Saints and Heroes, que caracterizou os atos supererrogatórios como atos que vão além do chamado do dever, ou seja, atos que não são obrigatórios. Desse modo, Urmson mostra que a vida moral não está restrita asa virtudes ou deveres morais. Há uma lacuna na classificação tradicional acerca dos atos morais que, geralmente, compreendem atos proibidos, obrigatórios e facultativos, que os quais apresentam certa compatibilidade com os atos ofensivos, louváveis e indiferentes. Os atos supererrogatórios rompem com essa estrutura estabelecida porque eles são facultativos e louváveis, ou seja, são atos híbridos, cujos aspectos pertencem a dimensões diferentes da moralidade, a saber: a deôntica e a axiológica. O propósito mais geral desta investigação é compreender, sob distintas perspectivas (histórica, lógica e psicológica), a natureza dos atos supererrogatórios. O primeiro objetivo é abordar o problema da caracterização dos atos supererrogatórios. No período antigo e no período medieval, há atos que podem ser comparados aos atos supererrogatórios à medida em que tem têm características gerais similares com a abordagem contemporânea. No período contemporâneo, o problema principal está relacionado com a adequação do que pode ser entendido por supererrogatório. O segundo objetivo é investigar a estrutura lógica dos atos supererrogatórios. A tese principal é argumentar em direção a uma dimensão híbrida dos atos supererrogatórios, oriunda das dimensões deôntica e axiológica, tendo como ponto de partida a lógica deôntica até chegar a um modelo análogo ao de Vasiliev, que substitui o quadrado de oposições por um triangulo de oposições. O terceiro objetivo é investigar a psicologia moral dos atos supererrogatórios. Esse interesse surgiu da possibilidade da haver fatores psicológicos distintos atuando nos agentes em relação aos fatores presentes no comportamento regular. Qual a natureza da motivação que leva aos atos supererrogatórios? Em que medida os atos supererrogatórios dependem do caráter e da virtudes? É possível afirmar que atos de santos e heróis são genuinamente altruístas ou são realizados por interesses próprios? O quarto objetivo é examinar o sentido prático dos atos supererrogatórios, ou seja, do que eles podem nos ensinar moralmente. Os atos supererrogatórios são atos valiosos em si mesmos, com configurações específicas, mas também em termos práticos e, por isso, interessam filosofia moral. Distinguem-se dos demais atos morais por incorporarem um sentido de experiência moral que pode ser entendida como fenomenologia do desafio, de estimularmos nosso comportamento para regiões mais distanciadas, menos corriqueiras.
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