Efeito da morfina sobre a persistência da memória de medo condicionado contextual em ratos
Resumo
Está bem estabelecido que os receptores opióides modulam redes cerebrais envolvidas no aprendizado e memória. Estudos utilizando várias tarefas de aprendizado têm mostrado que a morfina prejudica muitas formas de memória. Uma característica comum entre estes estudos é a administração de morfina pré ou pós-treinamento, a fim de verificar se este opióide altera o processo de consolidação da memória que ocorre até 6 horas após o aprendizado. Estudos recentes em animais têm descrito que manipulações farmacológicas realizadas 12 horas após o treino alteram a persistência da memória. Contudo, pouco se sabe sobre o papel da morfina nesta fase mnemônica. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de morfina sobre a persistência da memória de medo e investigar o seu possível mecanismo de ação. Ratos Wistar machos adultos foram submetidos à tarefa de medo condicionado ao contexto, sendo a memória desta tarefa medida como percentual de observações de imobilidade (―congelamento‖) 2, 7 ou 14 dias após o treinamento. A administração de morfina (10 mg/kg, i.p.) 12 horas após o treino não alterou as respostas de congelamento ao contexto de ratos testados 2 dias após o treino, mas reduziu o congelamento ao contexto nas sessões de teste realizadas 7 e 14 dias após o treino. O decréscimo do congelamento ao contexto induzido pela injeção de morfina 12 horas após o treino não foi revertido pela injeção de morfina (10 mg/kg, i.p.) antes da sessão de teste, indicando que os efeitos deste opióide não foram decorrentes de dependência de estado. A administração do antagonista de receptores opióides naloxona (1 mg/kg, i.p.) preveniu o efeito da morfina. A injeção intrahipocampal dos ativadores das enzimas adenilil ciclase e proteína quinase dependente de AMPc (PKA), forcolina (0,13 μg/sítio) e 8-Br-AMPc (7,5 μg/sítio), respectivamente, também preveniu o efeito de morfina. Os resultados sugerem que a morfina, administrada 12 horas após o treinamento do medo condicionado ao contexto não altera a formação da memória, mas prejudica a persistência do traço de memória por meio de mecanismos mediados pelos receptores opióides e a via de sinalização AMPc/PKA. Estes achados indicam que os opióides apresentam um potencial terapêutico na prevenção de doenças psiquiátricas relacionadas a memórias de medo.
Coleções
Os arquivos de licença a seguir estão associados a este item: