Influência do tratamento culinário na concentração e biodisponibilidade in vitro de metais, não-metais e espécies de arsênio em frutos do mar
Resumo
Nas últimas décadas uma ampla variedade de métodos analíticos e estudos de biodisponibilidade, interações químicas, metabolismo e toxicidade foram feitos para a avaliação dos riscos associados à contaminação de metais pesados em frutos do mar. Dentre estes, a maioria foi realizada em amostras cruas, e as poucas pesquisas envolvendo a avaliação da influência do tratamento culinário sobre o comportamento destes contaminantes envolvem interpretações inexatas em relação ao comportamento do contaminante após o processo de cocção. Baseando nestes aspectos, este trabalho tem como objetivo avaliar a influência do tratamento culinário na concentração e biodisponibilidade (in vitro) de metais (Cd, Cr, Cu, Hg e Pb) e não-metais (As, Se, S e as especies de As) de cinco espécies de frutos do mar (tubarão, camarão, lula, ostras e vieiras). Avaliaram-se três diferentes processos de cocção (cozimento, fritura e sautéing), além da amostra crua. Além disso, foi avaliada a influência da presença e ausência de condimentos (alho, sal e suco de limão) para cada tratamento. Todos os condimentos (alho, sal e suco de limão) e meios de cocção (água, óleo e manteiga) envolvidos durante os tratamentos culinários foram coletados para a avaliação do balanço de massas de cada tratamento. Após cada tratamento culinário as amostras de frutos do mar foram liofilizadas e cominuidas. A determinação de metais e não-metais foi feita usando um espectrômetro de massas triplo-quadrupolo com plasma indutivamente acoplado (ICP-QQQ). Parâmetros como massa e formato da amostra, tempo e temperatura de cocção, foram todos previamente otimizados e selecionados. Além disso, foram avaliados parâmetros do método de especiação, tais como: fase móvel, solução extratora, robustez, massa de amostra e ensaio de recuperação de analitos (AsB, As(III), As(V), DMA e MMA). As espécies de As foram identificadas e quantificadas por cromatografia a líquido acoplada à espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (LC-ICP-QQQ). A metodologia empregada neste estudo mostrou-se adequada para o propósito deste trabalho. Além disso, a avaliação e seleção do tipo de amostragem mostrou ser de suma importância para este estudo. Todas as amostras apresentaram perdas significativas de As (15 a 45%) após o processo de cozimento em água. Além disso, foram observadas perdas significativas de Cd (37 a 53%) nas amostras de vieiras que sofreram o processo de cozimento, fritura e sautéing; e de Hg (14 a 33%) nas amostras de tubarão e camarão que sofreram os processos de cozimento, fritura e sautéing. Não foi observada influência entre os tratamentos que utilizaram e não utilizaram condimentos (alho, sal e suco de limão). Entre as amostras estudadas neste trabalho, a amostra de tubarão galha-preta (Carcharhinus limbatus) foi a que apresentou as maiores concentrações de As e Hg, sendo que, tanto As quanto Hg, apresentaram concentrações de 280 e 245%, acima do limite máximo recomendado pela ANVISA, respectivamente. Além disso, essa amostra apresentou uma razão molar de Se/Hg < 1, apresentando maiores riscos à saúde dos consumidores. O método de análise de especiação de As apresentou boa robustez em relação à estabilidade da solução extratora, massa de amostra e uso de diferentes matrizes. A espécie de As majoritária encontrada em todas as amostras foi a AsB. As espécies de As apresentaram uma alta estabilidade frente ao tratamento culinário e ao ensaio de biodisponibilidade. A taxa biodisponível (em %) das espécies de As relativa à espécie de As originalmente presente na amostra crua apresentou um comportamento similar. Adicionalmente, o Hg apresentou uma alteração significativa da biodisponibilidade devido à influência do tratamento culinário. No entanto, a biodisponibilidade dos demais analitos mostrou-se independente do tratamento culinário que a amostra sofreu.
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